
22 de agosto de 2013 | 02h15
Seja como for, a ponte ficou seriamente danificada, o carro perdido e o destino de seus ocupantes desconhecido. Essa imagem é uma miniatura de um país que está se desintegrando, enfrentando enormes desafios ambientais e populacionais, desesperadamente necessitado de desenvolvimento e reparos.
Quem pagará para curar os ferimentos humanos e materiais que o Egito está infligindo a si mesmo? Os bilhões de dólares de nações do Golfo não poderão amparar indefinidamente um país de 85 milhões de habitantes, no qual aproximadamente a metade das mulheres não sabe ler?
O que os egípcios estão fazendo com sua nação é pura insanidade. O que é deprimente é que não parece haver uma oferta de líderes e opções necessárias para reverter essas tendências. Os egípcios têm a possibilidade de escolha entre os militares que parecem querer levar o Egito de volta a 1952, quando o Exército assumiu o poder pela primeira vez - e manteve a Irmandade Muçulmana no seu lugar - e a Irmandade, que quer voltar ao ano de 622, do nascimento do Islã e uma sociedade estreita, antipluralista, discriminatória contra as mulheres e dominada pela lei islâmica.
"A lição marcante do Egito hoje é que seus dois grupos mais poderosos, organizados e confiáveis - a Irmandade e as Forças Armadas - mostraram-se ambos incompetentes no negócio da governança", escreveu o cientista político Rami Khouri no Daily Star, de Beirute, na semana passada. "Não porque não tenham indivíduos capazes e seguidores espertos e racionais; eles têm muitos. É, antes, porque os hábitos militares e espiritualistas são próprios de mundos diferentes da governança e do fornecimento equitativo de serviços e oportunidades a milhões de pessoas de diferentes religiões, ideologias e etnias.
"A falta de outros grupos de cidadãos confiáveis e organizados que possam se engajar no processo político e criar novos sistemas constitucionais é, em grande parte, uma consequência da maneira como militares, membros de tribos e fanáticos religiosos dominaram a vida pública árabe por décadas", afirmou Khouri.
Pura verdade. O mundo árabe não teve as raízes de democracia que poderiam rapidamente brotar. Assim, quando a tampa foi levantada com o despertar árabe, não havia nenhum movimento progressista para competir com os militares e a Irmandade Muçulmana.
*Thomas L. Friedman é colunista.
TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
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