ANÁLISE: Como em 2012, Europa fica à mercê dos italianos

É como se os dias da crise da dívida de 2012 voltassem para os investidores, com o aumento nos rendimentos dos títulos italianos, portugueses e gregos, e o alerta do bilionário George Soros para uma “ameaça existencial” à União Europeia

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Por Nikos Chrysoloras , Heather Harris , Vassilis Karamanis e BLOOMBERG
Atualização:

É como se os dias da crise da dívida de 2012 voltassem para os investidores, com o aumento nos rendimentos dos títulos italianos, portugueses e gregos, e o alerta do bilionário George Soros para uma “ameaça existencial” à União Europeia.

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Sergio Mattarella, presidente da Itália Foto: Fabio Frustaci/ANSA via AP

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O gatilho foi a perspectiva de partidos nacionalistas anti-UE, na Itália, transformarem uma a eleição repetida em um referendo de fato sobre a filiação da Itália a euro. Os ativos italianos afundaram em geral na terça-feira, com o prêmio de risco dos bônus de 10 anos sobre a taxa referencial alemã subindo para o maior nível em quase cinco anos.

“A Itália tem enfrentará eleições em meio ao caos político", disse Soros em um discurso em Paris, ao alertar de que o fracasso nas políticas econômicas e de imigração significa que “já não é mais uma figura de linguagem dizer que a Europa está em perigo existencial; é a dura realidade”.

Apesar de tudo que se fala sobre recuperação econômica e retorno à estabilidade, os últimos dias mostraram quão rapidamente o sentimento pode tombar em um continente onde a desilusão e a divisão ainda são abundantes, especialmente no sul. Pode ser que não seja tão mal como há alguns anos, mas há poucas perspectivas de uma diminuição do risco político nas próximas semanas e meses.

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O euro caiu para sua maior baixa em 10 meses. para 1,151 contra o dólar antes de reduzir as perdas, enquanto o iene liderou os ganhos nas moedas do Grupo-dos-10, com as pessoas tentando evitar o risco.

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A incerteza quanto à Itália, bem como a perspectiva de turbulência política na Espanha, quando o primeiro-ministro enfrenta um voto de desconfiança, contaminou os mercados periféricos europeus, tais como Portugal e Grécia. O rendimento dos títulos do governo grego de 10 anos subiu quase 5%, complicando os planos do país para uma saída tranquila de seu programa de resgate em agosto.

Foram as eleições na Grécia em 2012 que colocaram a região do euro situação de ansiedade antes que o Banco Central Europeu declarasse que faria qualquer coisa para apoiar a união monetária.

Na Itália, é um confronto entre o establishment e dois partidos que possuem plataformas anti-UE de gastos deficitários e redução da imigração. Agora, os investidores estão recalculando os riscos de a terceira maior economia da zona do euro sair do bloco monetário.

O Partido Democrata da Itália acusou seus rivais, a Liga e o Movimento Cinco Estrelas, de ter preparado um plano para tirar o país do euro. Isso evocou lembranças de 2015, quando a oposição grega acusou o governo de Alexis Tsipras de encenar um confronto com os credores sobre a austeridade como um pretexto para deixar o bloco monetário.

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A Itália está sempre a poucos passos do “sério risco de perder o insubstituível ativo da confiança”, disse o presidente do Banco da Itália, Ignazio Visco.

O pânico se espalhou para os mercados acionários, com os bancos sendo os mais atingidos em meio a temores sobre sua exposição à Itália. Um índice ponderado pela capitalização dos bancos da área do euro caiu até 5,2% para o seu valor mais baixo desde dezembro de 2016, enquanto o Deutsche Bank caiu 3,3%, o menor desde setembro de 2016.

O principal executivo da UniCredit, Jean Pierre Mustier, disse que o declínio nas ações dos bancos italianos foi motivado por temores e não pela realidade, com base no desempenho da economia italiana ou dos próprios credores.

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Na realidade, a economia da região do euro cresceu no ritmo mais rápido na última década e o desemprego caiu para o menor índice desde a crise financeira.

“Esse contágio é o efeito do temor de uma potencial explosão da zona do euro”, disse Diogo Teixeira, diretor executivo da Optimize Investment Partners, uma empresa com sede em Lisboa que gerencia 150 milhões de euros (US$ 173 milhões) em ativos. Ele disse, no entanto, que "a probabilidade de que isso ocorra ainda é fraca”. / Tradução de Claudia Bozzo

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