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Análise: Coréia do Norte cruza o Rubicão

Ao menos em teoria, a Coréia do Norte é um inimigo que os EUA e seus aliados podem enfrentar com grande vantagem. O problema é o efeito de um conflito numa região com equilíbrio tão incerto quanto o Oriente Médio

Por Agencia Estado
Atualização:

O teste nuclear norte-coreano significa que o regime de Pyongyang resolveu desafiar a comunidade internacional para muito além das mentiras e bravatas costumeiras. Mesmo a China, sua única aliada contra vizinhos mais ou menos hostis, condenou o movimento, ciente do problema que a explosão está prestes a causar. Os EUA, de quem se espera a próxima jogada, ainda parecem escolher as palavras, premidos pelo calendário eleitoral e por questões importantes, como o vexame no Iraque, o impasse israelo-palestino e o escárnio iraniano. É necessário entender, no entanto, a extensão do que acaba de acontecer. A stalinista Coréia do Norte é provavelmente o regime mais fechado do mundo. O país está sujeito a Kim Jong-il, um tirano dedicado a manter sua dinastia no poder, ainda que isso signifique a ruína de tudo o mais. Na sua contabilidade, o único modo de fazer o mundo deixá-lo em paz com sua ditadura intacta é ter algo para dar em troca, isto é, a capacidade de causar danos à Coréia do Sul e ao Japão. Esses danos dependem substancialmente do que a Coréia do Norte de fato tem em seu poder. O país vem de um recente fracasso numa prova de um míssil de longo alcance. Por outro lado, ao fazer um teste nuclear, supõe-se que os norte-coreanos tenham ao menos três artefatos - especialistas americanos acreditam que oito seja um número factível. Os russos supõem que os norte-coreanos já possam desenvolver (ou já tenham desenvolvido) uma arma nuclear capaz de matar 200 mil pessoas num grande centro, como Seul. Outros especialistas, no entanto, dizem que o tamanho do teste nuclear norte-coreano foi reduzido o bastante para indicar que Pyongyang ainda está longe de representar uma ameaça iminente. Ou seja, não há informações precisas quando se trata de Coréia do Norte. Por outro lado, as informações sobre a capacidade norte-americana de reagir rapidamente a uma ação hostil dos norte-coreanos são bastante concretas. O arsenal nuclear dos EUA dispõe hoje de um grau de precisão e de velocidade de resposta que aniquilou o princípio de destruição mútua vigente durante a Guerra Fria. Assim, mesmo potências como Rússia e China não seriam capazes de enfrentar os EUA numa eventual escalada nuclear. Portanto, ao menos em teoria, a Coréia do Norte é um inimigo que os EUA e seus aliados podem enfrentar com grande vantagem. O problema é o efeito de um conflito numa região com equilíbrio tão incerto quanto o Oriente Médio. Desse modo, há muitas dúvidas, mas apenas uma certeza: a Coréia do Norte cruzou o Rubicão, e a sorte está lançada.

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