06 de dezembro de 2019 | 20h12
Pela segunda vez, Cristina Kirchner retorna ao poder, agora não como dirigente da Casa Rosada, mas como vice-presidente do peronista Alberto Fernández e como membro do Senado, uma tribuna que ela aproveitará para se manter seu protagonismo no cenário político e salvaguardar seus objetivos pessoais.
O cargo de vice-presidente é eletivo na Argentina e suas funções estão estabelecidas na Constituição: ela assume o Executivo no caso de doença, ausência, morte, renúncia ou destituição do presidente. Também exerce a presidência do Senado, embora sem direito a voto, salvo no caso de haver empate em alguma votação.
Aos 66 anos, Cristina é a única líder que chega à vice-presidência após dois mandatos consecutivos na Casa Rosada (2007-2015) e de ter sido senadora e deputada, constituinte e deputada estadual, uma carreira política brilhante de três décadas, que ela soube construir juntamente com seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007).
Além disso, ela é líder de um espaço político que surgiu dentro do peronismo, mas o transcende, o kirchnerismo, no poder há 12 anos, que responde somente a sua chefe. Se não apostou num terceiro mandato e, em troca, convidou, em maio, Alberto Fernández a participar da disputa para a presidência, foi porque, segundo o analista Esteban Regueira, da consultora Clivajes, Cristina reconheceu que havia um “teto” no seu eleitorado.
Depois de ter conseguido 54% dos votos em sua reeleição, em 2011, há dois anos ela disputou uma vaga no Senado, obtendo 36% de votos. “Naquele momento, ela percebeu que esse era seu limite. Por isso, pensando em 2019, procurou formar um grande acordo, convidando Fernández”, disse Regueira. Para ele, a ex-chefe de Estado terá de deixar de ser aquela figura “de constante confronto” que foi em seu governo e “buscar mais o diálogo e a negociação”.
Patricio Giusto, consultor político, diz não acreditar que Cristina rivalize com Fernández no poder. “Acho que seu principal objetivo é que seu filho, Maximo Kirchner, seja presidente em 2023”, disse. Máximo, de 42 anos, assim como ela, está às voltas com um processo na Justiça.
Cristina acumula uma dezena deles. Ela será vice-presidente com um processo em curso, aguardando o início de mais quatro e figurando em outras cinco ações em fase de instrução. Giusto acha que as investigações não vão parar, mas deverão “retardar”, pois a Justiça na Argentina “se alinha com o poder”. Regueira é da mesma opinião: “Na Argentina, a Justiça sempre acaba se acomodando ao lado do poder”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
*É JORNALISTA
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