Em sua primeira viagem ao exterior, em 2017, Donald Trump foi à Arábia Saudita e, ao lado do rei saudita Salman e do autocrático presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, tocou com os dois um globo terrestre decorativo que estava no meio do palco.
A foto surreal do presidente e seu discurso em Riad apontaram para uma direção que perdurou pelo restante de sua presidência: a de um líder que não dá prioridade aos direitos humanos e estava bem à vontade ao lado de governantes não eleitos democraticamente.
O cenário mundial começou a mudar com a derrota de Trump. Uma enxurrada de líderes mundiais felicitou Biden pela vitória – alguns, porém, se destacaram pelo silêncio. Nesse último caso, estavam os anfitriões de Trump em Riad.
Os líderes ditatoriais da Rússia, Coreia do Norte e China também não falaram publicamente sobre o triunfo de Biden, que disse que pretende que os EUA sediem uma “Cúpula pela Democracia”.
Não se sabe se a iniciativa será bem-sucedida, mas é um sinal claro de que um governo Biden evitaria mimar líderes demagogos e nacionalistas iliberais. Nessa lista, estão o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, que zombou do “imperialismo moral” dos EUA.
A crise política nos EUA, no entanto, alimenta outros líderes. Célia Belin, do Brookings Institution, afirma que a eleição “não foi uma rejeição total ao trumpismo” e enviou uma mensagem de que “movimentos populistas nacionalistas ainda são fortes”. E podem ganhar mais força após Biden tomar posse. *É COLUNISTA DO WASHINGTON POST