Análise: Derrotas no Cinturão da Ferrugem são alerta para Trump

Os eleitores propiciaram grandes vitórias para candidatos democratas e deram uma diretriz para os candidatos que pretendem disputar a presidência em 2020

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Por Sahil Kapur e Bloomberg
Atualização:

O presidente Donald Trump recebeu um sinal de alerta na terça-feira vindo dos Estados do Meio-Oeste e do Cinturão da Ferrugem que o levaram à presidência, uma vez que os eleitores propiciaram grandes vitórias para candidatos democratas e deram uma diretriz para os candidatos que pretendem disputar a presidência em 2020.

Americanos votam em urnas eletrônicas nas eleições de meio mandato na California. Corrida eleitoral nos EUA foi marcada por eventos violentos, como o envio de pacotes com explosivos a líderes opositores a Trump e o massacre em uma sinagoga na cidade de Pittsburgh, na Pensilvânia. Foto: Robyn Beck/AFP

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Na Pensilvânia, Wisconsin e Michigan os democratas dominaram a disputa pelo Senado e governos estaduais e obtiveram um número valioso de assentos na Câmara, derrotando republicanos apoiados por Trump em todos os níveis. Quanto a se essa reação democrata é efêmera ou significa uma mudança política de longo prazo ainda é cedo para dizer, mas os resultados em Estados chave do país foram indigestos para Trump.

O senador da Pensilvânia Bob Casey e o governador Tom Wolf foram reeleitos. Gretchen Whitmer, de Michigan, foi eleita governadora do Estado e a senadora Debbie Stabenow, membro da equipe de liderança do Minority Leader Chuck Schumer, também se reelegeu. Tammy Baldwin venceu a disputa com base numa plataforma bastante liberal, ao passo que o democrata Tony Ever foi declarado vitorioso, derrotando o governador republicano Scott Walker.

Em 2016, Trump perdeu o voto popular para Hillary Clinton, mas conquistou a presidência com vitórias nesses três Estados de tendência democrata por um total de menos de 80.000 votos. Um democrata que conseguir o apoio da Pensilvânia, Michigan ou Wisconsin e os votos de seus 46 Colégios Eleitorais em 2020, juntamente com os Estados onde Hillary Clinton venceu, conquistará a presidência.

Os democratas também venceram disputas para governador em Illinois e Minnesota e senadores democratas de Minnesota foram reeleitos. Por outro lado, Ohio, um Estado onde Trump venceu por oito pontos e elegeu um novo governador, reelegeu o senador democrata Sherrod Brown.

Virada democrata

“Mostraremos à América como celebramos o trabalho organizado e todos os trabalhadores – a garçonete em Dayton, o funcionário de um escritório em Toledo, a enfermeira em Columbus, o mineiro de Coshocton”, disse Brown. “Essa é uma mensagem vinda de Ohio em 2018 e este é o modelo para nossa nação em 2020”.

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Embora os resultados dêem aos democratas a esperança de recuperar a Casa Branca, a história é um alerta para não exagerarem na sua interpretação. O presidente Barack Obama venceu em todos os Estados do Cordão da Ferrugem e do Meio-Oeste em 2008. Dois anos depois os democratas sofreram duras derrotas ali, perdendo disputas para governador nos três Estados e também em Ohio. Obama se recuperou e venceu novamente em 2012 naqueles Estados. Trump conseguirá a mesma façanha?

Vitórias de democratas progressistas e um número recorde de mulheres sugerem que os eleitores não estão satisfeitos com a direção tomada pelo governo e o país, disse a pesquisadora Celinda Lake. “As pessoas responderam a Trump que desejam mudanças e agora estão respondendo às mulheres pedindo também mudanças e em 2020 votarão novamente por mudanças”, afirmou.

Para os eleitores democratas que provavelmente vão deparara com um campo maior e mais diversificado de candidatos à presidência em 2020, uma questão crucial é qual deles ressuscitará o alardeado “muro azul democrata” do Meio-Oeste que Trump derrubou em 2016. E essa dúvida se amplia depois de os democratas terem desapontado na Flórida – um perene Estado volátil em eleições presidenciais - na disputa para o Senado e governador desta terça-feira.

Isso significa que terão de decidir se escolhem um candidato com uma plataforma ideologicamente progressista e tentam expandir o eleitorado mobilizando os eleitores não tradicionais - como fez Obama – ou se optam por um candidato que procurará se distanciar da base democrata e apelar para os eleitores mais moderados.

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“O centro de gravidade mudou vigorosamente dentro do Partido Democrata e do eleitorado em geral, pendendo para uma direção econômica populista”, disse Adam Green, do Progressive Change Campaign Committee, afirmando que idéias liberais como a expansão do Medicare e da Previdência Social podem ser vitoriosas em áreas azuis, púrpuras (Estados indecisos) e vermelhas do país.

A eleição de 2020

O ciclo eleitoral de 2018 revelou um partido que vem mudando rapidamente, mudanças às quais os aspirantes a candidatos presidenciais em 2020 terão de recorrer. Os democratas mostraram que desejam líderes que se assemelhem à base crescente de eleitores formada basicamente por pessoas mais jovens, não brancas e mulheres. Os democratas conseguiram eleger as duas primeiras mulheres muçulmanas para o Congresso, Ilhan Omar, em Minnesota, e Rashida Tlaib, em Michigan. Elegeram o mais jovem membro da Câmara, Alexandria Ocasio-Cortez de Nova York e Ayanna Pressley, a primeira afro-americana eleita para o Congresso, de Massachusetts. E depois de todos os votos contados provavelmente observaremos um número recorde de mulheres que participarão do próximo Congresso a ser inaugurado em janeiro, a maioria do lado democrata.

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Até agora possíveis candidatos para 2020 incluem o vice-presidente Joe Biden, a senadora Elizabeth Warren de Massachusetts, Kamala Harris da Califórnia, Cory Booker de Nova Jersey, Kirsten Gillibrand de Nova York e Bernie Sanders de Vermont. Prefeitos e ex-prefeitos como Eric Garcetti de Los Angeles, Julian Castro de Sant Antonio e Michael Bloomberg de Nova York, fundador e sócio majoritário da Bloomberg LP, empresa matriz da Bloomberg News.; e governadores como John Hickenlooper do Colorado.

“Uma das grandes lições deixadas por Trump em 2016 é de que qualquer um pode ser presidente”, disse Steve Schale, da Flórida, que assumiu papéis importantes nas campanhas de Obama em 2008 e 2012 e tem feito lobby em favor da candidatura de Biden para 2020. Candidatos potenciais e seus seguidores “encontrarão vestígios da resposta que gostariam de ter na noite da eleição”, disse ele.

A era Trump elevou a esquerda ideológica do Partido Democrata com muitos candidatos disputando a eleição com base em idéias como a do Medicare para todos, aumentos vigorosos do salário mínimo federal, faculdades públicas gratuitas e políticas de imigração mais abertas. Não conseguirão nada disto enquanto Trump estiver no governo, mas os candidatos que pretendem se tornar o porta-estandarte do partido em 2020 terão de fazer frente ao forte anseio por elas dentro da sua base.

Muitas vitórias dos Democratas tiveram ajuda de mulheres com curso superiore que deixaram os republicanos para se aliar aos democratas, o que cria uma oportunidade para 2020. Mas as derrotas em áreas rurais, que pendem cada vez mais para os republicanos, são preocupantes. O tema principal em muitas pesquisas era o da saúde e neste caso os democratas desfrutaram de uma ampla vantagem, pois é um tema que deve ser o tendão de Aquiles de Trump em 2020.

Os futuros candidatos democratas terão de equilibrar isto com a necessidade de atrair as alas do partido. O senador da Virginia Ocidental Joe Manchin e o senador por Montana Jon Tester se reelegeram em Estados vermelhos. Um grupo de democratas que disputou um assento na Câmara em distritos de inclinação republicana foi vitorioso, especialmente em áreas que tradicionalmente não apóiam idéias liberais.

A tomada de controle da Câmara pelos democratas dará aos líderes do partido poder sobre o orçamento e também para decidir que projetos de lei devem ser votados, poder que usarão para estabelecer um contraste com os republicanos. E terão também novos poderes de investigação, que a presidente da Casa Nancy Pelosi já sugeriu que serão usados.

“Tem a ver com restaurar os equilíbrios de poderes previstos na Constituição no governo Trump”, afirmou ela em um discurso na terça-feira. / Tradução de Terezinha Martino

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