Análise: Evo, cocaína e lítio dominam o debate na eleição boliviana

Eleições são essenciais para a democracia, para a economia e para as relações exteriores do país

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Por Daniel Ramos
Atualização:

LA PAZ - Enquanto a Bolívia se prepara para o resultado de uma eleição essencial em sua democracia, uma série de questões estão sobre a mesa, incluindo a recuperação econômica, os enormes depósitos de lítio do país, o papel do ex-líder destituído Evo Morales e a política de cultivo de coca, a matéria-prima da cocaína.

Mulher boliviana se apresenta em colegio eleitoral na cidade de Parotani, a 50 quilômetros de Cochabamba. Foto: EFE/Jorge Ábrego

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Os dois favoritos, Luis Arce, o candidato do Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Morales, e o ex-presidente centrista Carlos Mesa, que liderou o país de 2003 a 2005,  seguiriam caminhos muito diferentes em relação a Morales, uma figura divisora na Bolívia que atualmente vive exilado na Argentina.

Mesa disse que em seu governo “os crimes de Evo Morales não ficariam impunes”. Arce deixou a porta aberta para que ele retorne à política, embora tenha afirmado que ele teria de resolver as pendências com as autoridades judiciais.

O candidato Carlos Mesa, presidente da Bolívia entre 2003 e 2005, vota em La Paz. Foto: Jorge Bernal/ AFP

O MAS, sob o comando de Evo, um ex-chefe do sindicato dos cocaleiros, teve forte apoio dos agricultores da folha de coca, que é usada para fins medicinais na Bolívia, mas também é a matéria-prima para fazer a cocaína. Ele pôs fim às operações de repressão às drogas realizadas pelos EUA no país.

Ambos os candidatos defendem uma luta contra as drogas. Para Arce, as áreas de cultivo tradicionais devem ser protegidas por lei, enquanto Mesa disse que é necessário haver mais controle da produção legal.

A relação da Bolívia com os Estados Unidos azedou com Evo. Arce se comprometeu a “trabalhar com todos”, embora sua proximidade o líder socialista atrapalhe os laços com os EUA. Mesa, por sua vez, afirma que não há razão para não “retomar as relações plenas” com os EUA.

O candidato de Evo Morales, Luis Arce, ao chegar em La Paz Foto: EFE/ Martín Alipaz

Qualquer novo governo precisaria lidar com a questão do lítio, o metal ultraleve usado para fabricar baterias para veículos elétricos. A Bolívia tem uma das maiores reservas mundiais, mas ela ainda não foi explorada. “Pretendemos transformar a Bolívia em um produtor competitivo”, disse Mesa.

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Arce quer criar 130 mil novos empregos diretos e indiretos até 2025 por meio da industrialização do lítio. Mesa prometeu gastar mais de US$ 6 bilhões para promover uma recuperação econômica. Arce quer reativar a indústria doméstica e propôs uma suspensão de dois anos no pagamento de cerca de US$ 1,6 bilhão da dívida externa.

* É repórter correspondente na Bolívia

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