Análise: Khamenei é investidor supremo do país persa

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Por Meir Javedanfar
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A melhor maneira de entender a eleição no Irã é pensar no líder supremo Ali Khamenei como o supremo gestor de investimentos do regime. Como Warren Buffett, ou qualquer outro grande gestor de fundos, Khamenei tem de prestar contas a seus acionistas quando faz um investimento de peso. Se prejudicar o interesse de seus acionistas com escolhas erradas, essa autoridade se desgastará. Os acionistas de Khamenei são, principalmente, a Guarda Revolucionária e os Principalistas, uma coalizão ampla de políticos conservadores. A escolha mais importante que Khamenei tem DE fazer neste ano é a do próximo presidente. O último investimento presidencial de Khamenei, Mahmoud Ahmadinejad, não deu muito certo. Suas extravagâncias e estilo de liderança criaram lutas internas e divisões. Ele devastou a imagem do Irã no exterior com discursos inflamados, como sua negação do Holocausto. Em casa, suas políticas econômicas populistas causaram alta inflação - 30% em maio - e desemprego de 12%, segundo o FMI. Combinado com as sanções internacionais pelo alegado programa nuclear, esse registro econômico tem prejudicado não só o povo iraniano, mas também interesses econômicos da Guarda, que tem importantes interesses nos setores de construção, petróleo e automotivo, bem como na fabricação e importação de produtos eletrônicos. Ano passado, o governo americano nomeou a National Iranian Oil Co., a companhia estatal de petróleo, como uma "agente ou filial" da Guarda. Quanto menos dinheiro os consumidores tiverem e quanto mais a inflação erodir seu poder de compra menos eles poderão gastar em bens que a Guarda fabrica e importa. Khamenei apoiou Ahmadinejad para um segundo mandato em 2009. Se ele fizer outra escolha ruim, partes interessadas importantes do regime começarão a duvidar de sua capacidade de garantir seus interesses. O uso generalizado da fraude eleitoral, em 2009, quando o regime chegou a falsificar cédulas para Ahmadinejad - 48 eleitores produziram 79 votos - mostra que o líder supremo não se importa muito com quem a maioria dos iranianos gostaria de ver como líder. Os acionistas do regime estarão observando e julgando. Após um investimento ruim em Ahmadinejad, o gestor supremo de investimentos do Irã precisa mostrar seu valor. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK * É iraniano-israelense e analista de Oriente Médio

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