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Análise: O silêncio das Farc na primeira eleição após acordo com governo

A única coisa que os ex-combatentes disseram foi alertar que o processo de paz chega enfraquecido à votação

Por Mar Romero Sala e EFE
Atualização:

As Farc, guerrilha que virou partido político na Colômbia, chega em silêncio à reta final da primeira eleição presidencial após o acordo de paz. Rodrigo Londoño, conhecido como Timochenko, líder do partido Força Alternativa Revolucionária do Comum (Farc), retirou-se da campanha por razões de saúde e, desde então, o grupo não apoiou ninguém. 

Rodrigo Londoño Echeverri, conhecido como"Timochenko", é candidato pela Farc Foto: AFP PHOTO / Raul ARBOLEDA

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A única coisa que os ex-combatentes disseram foi alertar que o processo de paz chega enfraquecido à votação, envolvido no escândalo de Jesús Santrich, negociador das Farc preso por narcotráfico, e pela liderança de Iván Duque, candidato do Centro Democrático, partido do ex-presidente Álvaro Uribe, que é contra o acordo de paz firmado com a guerrilha em 2016.

Seuxis Pausivas Hernández, conhecido como Jesús Santrich, foi preso no dia 9 de abril após pedido do governo americano. Ele é acusado de tentar enviar dez toneladas de cocaína para os EUA – a negociação teria sido concluída após a assinatura do acordo com as Farc e, portanto, não poderia ser anistiada. A Jurisdição Especial para a Paz (JEP) analisa seu pedido de extradição feito por Washington. Em vários momentos, os ex-guerrilheiros denunciaram a prisão de Santrich como uma “montagem” do governo colombiano para prejudicar o partido.

Durante o tempo em que Londoño foi candidato, ele foi alvo de vários protestos e seus comícios foram marcados por tumultos. Em determinado momento, o candidato da Farc chegou a denunciar a “falta de garantias” e suspendeu a campanha durante um mês. No entanto, foi uma cirurgia cardíaca que o retirou da disputa. 

Ainda em recuperação, Londoño mantém ações discretas e passa o tempo em reuniões com simpatizantes em diferentes zonas rurais da Colômbia. Depois do anúncio, os ex-guerrilheiros abandonaram qualquer pretensão presidencial, não anunciaram um substituto de Londoño e não apoiaram nenhum candidato, nem mesmo o esquerdista Gustavo Petro, da coligação Colômbia Humana. 

A primeira aventura eleitoral do partido Farc também sofreu um duro golpe nas eleições legislativas de 11 de março, quando os ex-guerrilheiros obtiveram apenas 50 mil votos. Apesar disso, o partido terá cinco assentos em ambas as Casas do Legislativo, em razão de um dos pontos do acordo de paz assinado com o governo. 

A questão envolve agora o futuro do movimento. É preciso ver se no dia 20 de julho, quando os parlamentares da Farc assumem seus cargos no Congresso, o partido conseguirá se consolidar no cenário político colombiano ou se terá o mesmo destino da Aliança Democrática M-19, criada por uma outra guerrilha desmobilizada nos anos 90, que desapareceu pouco tempo depois. 

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*É JORNALISTA

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