Análise: Obama recebeu prêmio por suas intenções

Comitê do Nobel da Paz tomou passo ousado ao escolher presidente americano.

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Por Paul Reynolds
Atualização:

Ao anunciar a escolha do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para o Nobel da Paz, o comitê norueguês estava honrando as intenções de Obama mais do que suas conquistas. Obama está no cargo há pouco mais de oito meses e provavelmente pretende servir oito anos, então é muito cedo em seu mandato para que receba esse prêmio. O comitê não fez segredo de sua visão, dizendo que Obama recebeu o prêmio "por seus esforços extraordinários para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos". Isso é, claramente, uma crítica implícita ao ex-presidente americano, George W. Bush e aos neo-conservadores, frequentemente acusados de tentar mudar o mundo à sua imagem. O comitê deu "importância especial à visão de Obama e a seu trabalho por um mundo sem armas nucleares". Mas também mencionou a ONU, as mudanças climáticas e o "fortalecimento da democracia e dos direitos humanos". A referência feita a "democracia" será notada - talvez ironicamente, talvez com algum ressentimento - pelos neo-conservadores, já que a chamada "disseminação da democracia", especialmente no grande Oriente Médio (como eles chamavam a região incluindo o Afeganistão), era uma de suas bandeiras. O risco para o presidente Obama é que ele poderá não corresponder à expectativa levantada pela premiação. Aqui estão alguns dos problemas que ele enfrenta, suas intenções para lidar com eles e as chances de sucesso. Armas nucleares: O presidente falou de seu desejo de ver um mundo sem armas nucleares. Uma nova resolução do Conselho de Segurança (de número 1887) deu mais peso à conferência do próximo ano, que irá revisar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Ele também quer que o Senado americano ratifique o tratado. Mas até que ponto os Estados Unidos estão realmente preparados para ir? O país espera obter um novo acordo com a Rússia em dezembro para reduzir o número de ogivas prontas para abaixo das 2,2 mil já acordadas. Mas ter até mesmo centenas de ogivas não é viver em um mundo livre de armas nucleares. E enquanto outros (Rússia, China, Grã-Bretanha, França, Índia, Paquistão e Israel) as tiverem, os Estados Unidos também as terão. É provável que haja algum progresso, mas as armas nucleares continuarão a existir. Mudanças climáticas: O presidente Obama desafiou a política hostil adotada pelo ex-presidente Bush. Mas cada passo de Obama nessa área dependerá de sua aceitação no Congresso. A intenção está lá, mas a realização é problemática. Direitos humanos: O comitê não mencionou, mas o proposto fechamento da prisão de Guantánamo e o fim do uso de tortura por todas as agências americanas provavelmente fizeram parte da decisão (de conceder o prêmio a Obama). A previsão é de que Guantánamo seja fechada até o começo do ano que vem. Iraque: O presidente disse que as operações americanas de combate no Iraque terminarão até o fim de agosto do ano que vem, apesar da previsão de que tropas americanas ficarão no país para treinar iraquianos e lutar contra a Al-Qaeda. As intenções estão lá, mas ainda não foram levadas a cabo, apesar da grande probabilidade de virem a ser. Irã: Há pelo menos o início de uma negociação sobre o programa nuclear do Irã após a "mão estendida" de Obama. Mas ninguém pode dizer até onde e em que velocidade isso acontecerá. A ameaça de um conflito entre o Irã e Israel continua. Enquanto isso, ainda não há conversas significativas entre Israel e os palestinos. Afeganistão: O atual problema mais difícil para o presidente. Ele enfrenta as demandas para um aumento das forças americanas no país, o que significaria mais guerra, o que é pouco encorajador para um vencedor de um prêmio de paz. A crise continua. Todos esses problemas ilustram as intenções do presidente, mas também a distância que tem para percorrer para cumprir as expectativas. O comitê do prêmio Nobel da Paz tomou um passo ousado. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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