A iminente votação sobre se a Grã-Bretanha deve ou não sair da União Europeia era o tema em debate. A discussão em South Benfleet, cidade inglesa da costa sudeste, centrava-se no fluxo de cidadãos europeus na Grã-Bretanha. “Por que eles querem vir aqui?”, questionou, furiosa, uma mulher que defendia a saída da Grã-Bretanha da UE no debate organizado pela câmara de vereadores. “Querem nossos salários e benefícios. E nós somos uns molengas.” Paddy Ashdown, ex-líder liberal-democrata e defensor do voto pela permanência no referendo da próxima quinta-feira, respondeu com um toque de amargura. “Não estou vendo aqui muita evidência disso.”
Se o Reino Unido votar pela saída, isso se deverá muito ao forte sentimento antieuropeu em grande parte da Inglaterra, centro do movimento para separar os britânicos do continente. Pesquisas e analistas dizem que, enquanto Escócia e Irlanda do Norte devem votar em massa pela permanência, a Inglaterra, muito mais populosa, deve votar pela saída, refletindo uma obtusa visão de que identidade e valores britânicos serão varridos pela subordinação aos burocratas de Bruxelas.
O senso de um ressurgente orgulho de ser inglês é palpável em lugares como South Benfleet, no coração da região mais etnicamente inglesa do Império Britânico. Nessa região, quase 80% se dizem ingleses puros e 95% são brancos. São também mais velhos que a média nacional. South Benfleet é uma cidade suburbana e de população operária do distrito de Castle Point, Essex, que trocou o East End de Londres por uma espécie de paraíso com muitas casas de família, gramados, praias e parques à beira-mar.
As pessoas são obstinadamente inglesas, conservadoras e pró-Brexit, como a possível saída da UE vem sendo chamada. Muitos sentem que sua soberania e identidade estão sendo diluídas por uma fracassada UE e uma “incontrolável” entrada de estrangeiros. Seu nacionalismo vem se mostrando uma parte decisiva do debate pela saída. Ele junta orgulho nacional, nostalgia e a sensação de que algo precioso para essas ilhas está sendo destruído pelos muitos cidadãos da UE que, autorizados a mudar-se sem visto para qualquer dos países-membros, vêm viver e trabalhar na Grã-Bretanha, atraídos por uma economia vibrante e empregos.
A classe trabalhadora está sendo passada para trás, dizem pessoas em South Benfleet. Empregos na construção civil estão sendo ocupados por imigrantes europeus qualificados que trabalham por menos. O nacionalismo inglês está crescendo e vem sendo encorajado pelo referendo. O Reino Unido de quatro nações pode terminar dividido, com Inglaterra e País de Gales votando pela saída e Escócia e Irlanda do Norte votando pela permanência. Isso pode levar a governos mais poderosos em nível local e regional, à independência da Escócia ou à criação de um Parlamento inglês separado, como Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte já têm. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ *É JORNALISTA