Análise: participação internacional em inquérito israelense é restrita

Israel espera legitimar ação e colocar foco sobre ativistas.

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Por Paul Reynolds
Atualização:

O inquérito de Israel que investiga o ataque à frota de seis barcos que tentou furar o bloqueio à Faixa de Gaza é uma resposta cuidadosamente elaborada à pressão internacional para que o país preste contas sobre o episódio, com saldo de nove mortos em 31 de maio. Para ter a investigação aceita pela União Europeia e - ainda mais importante - pelos Estados Unidos, o governo israelense aceitou a presença de dois representantes internacionais na comissão responsável pelo inquérito. O primeiro deles é o prêmio Nobel da Paz David Trimble - um dos articuladores do acordo de paz na Irlanda do Norte de 1998 e atualmente membro do grupo internacional Amigos de Israel, fundado por Dore Gold, aliado próximo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. O outro representante é o promotor militar aposentado canadense Ken Watkin. A presença internacional, porém, foi incapaz de acabar com as críticas à condução do inquérito. Ainda há pressão para a realização de uma investigação internacional completa. Nesse contexto, o inquérito já foi rejeitado pela Turquia, de onde os mortos eram cidadãos. Parte desse descontentamento vem do fato que Watkin e Trimble terão o papel de observadores, sem, ao que tudo indica, poder de decisão. A dupla também será impedida de interrogar diretamente os soldados que participaram do ataque. Terá apenas acesso a resumos da documentação do inquérito. Caso não se contentem com o conteúdo, eles poderão pedir mais informações. Ainda não está claro se poderão falar com os ativistas que estavam a bordo dos barcos atacados. Mesmo restrita, a presença internacional é potencialmente significativa por abrir as portas para a possibilidade de participação semelhante em futuros inquéritos sobre ações do Exército do país. Ativistas na mira O inquérito será comandando pelo ex-juiz da Suprema Corte israelense Isarel Yaakov Tirkel, que terá apoio do general da reserva Amos Regev e do professor de direito internacional e diplomata aposentado, Shabtai Rosen. A investigação tem três objetivos formais: - Examinar as "circunstâncias de segurança" do bloqueio naval a Gaza e verificar se o cerco está de acordo com a legislação internacional. - Decidir se o ataque aos navios seguiu princípios do direito internacional. - Considerar as ações dos ativistas integrantes da frota e organizadores da ação, assim como sua identidade. Ao acrescentar o terceiro ponto, o governo de Israel espera não só conseguir o aval ao bloqueio a Gaza e ao ataque à frota, mas também dirigir os holofotes das investigações aos ativistas envolvidos. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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