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Análise: Percepção de Zuma como 'vítima' ajudou sua candidatura

Acusações de corrupção e escândalos podem ter fortalecido candidato, que se diz alvo de conspiração.

Por Farouk Chothia
Atualização:

Depois de passar quase quatro décadas vivendo sob o domínio de uma minoria branca, parece que os sul-africanos negros passaram a ter uma simpatia natural por vítimas, o que tem ajudado o líder do CNA, Jacob Zuma, em sua longa luta para chegar à Presidência do país. Uma pesquisa de opinião publicada neste mês pelo instituto Ipsos Markinor mostra que 77% dos eleitores negros tem simpatia por Zuma, enquanto seu apoio entre os brancos é de apenas 1%. O que seus críticos encaram como fraquezas - as acusações de estupro e corrupção, a falta de educação e suas origens humildes - acabaram se tornando os pontos fortes de Zuma junto a seus correligionários. Outra pesquisa do Ipsos Markinor revelou que muitos dos correligionários de Zuma se veem "com mais chances" de votar no candidato justamente por causa das acusações. "Os sul-africanos amam uma vítima - alguém que foi injustiçado, ridicularizado, humilhado e abusado - alguém que teve sua dignidade atropelada pelo destino ou por inimigos reais", diz o jornalista e autor sul-africano Fred Khumalo. Conspiração política Aos olhos de muitos negros sul-africanos, Zuma foi vítima de uma conspiração política armada pelo ex-presidente Thabo Mbeki e por seus comparsas para destruir suas chances de se tornar presidente. Primeiro, ele foi acusado de corrupção, o que foi descartado por um juiz. Depois ele foi acusado de estupro, e subsequentemente inocentado. O juiz do caso decidiu que a relação sexual foi consensual. Em seguida, ele voltou a ser acusado de corrupção. O promotor do caso acabou desistindo da acusação, depois de alegações de que houve interferência dos inimigos políticos de Zuma no caso. Para os críticos de Zuma, as vitórias legais equivalem - como disse o cartunista sul-africano Zapiro - a "estupros da Justiça" e um sinal de que a África do Sul estaria se tornando uma "república das bananas". Em um comício, a líder do partido de oposição Aliança Democrática, Helen Zillie, disse: "Só a Aliança Democrática é forte o suficiente para impedir Zuma de levar a África do Sul por um caminho de um Estado falido". Para os apoiadores de Zuma, no entanto, a decisão do governo de Mbeki de acusá-lo seria um sinal de que a África do Sul estaria voltando aos dias sombrios do apartheid, quando o governo abusava dos seus poderes e prendia opositores com acusações sem fundamento. "Nós estamos preparados para morrer por Zuma", disse Zwelinzima Vavi, secretário-geral do Cosatu, a principal central trabalhista da África do Sul. O próprio Zuma sinalizou que está preparado para uma batalha. Zuma tem cantado nos seus comícios a sua canção Traga-me a minha metralhadora, que ficou famosa durante o período de luta contra o apartheid. Religião e educação Nas eleições desta quarta-feira, Zuma decidiu que votará no posto eleitoral da vila onde nasceu, Nkandla, na província de Kwa-Zulu-Natal. A escolha, em detrimento de grandes centros eleitorais como Durban ou Johanesburgo, foi feita para mostrar que um menino pastor de origens humildes pode chegar ao cargo mais poderoso do país. Muitos negros pobres da África do Sul - que chamam Zuma pelo nome do seu clã, Msholozi - têm dito: "Se ele conseguiu ser bem-sucedido, por que nós não podemos?" Zuma transformou a escolaridade em um tema central da sua campanha, prometendo que dará ao eleitorado a educação a qual não teve acesso quando criança, durante o apartheid. Ele prometeu que, nos primeiros cinco anos do seu governo, caso ele vença, 60% das escolas do país serão gratuitas, e que a África do Sul seria "libertada do analfabetismo", como promete o manifesto do CNA. "Eu amo educação, porque eu sei como é ser pouco educado, tendo eu próprio passado por isso", disse Zuma. "Mas quando você se coloca um objetivo, você sucede. Eu fiz, eu sou educado hoje." Apesar de ser um ex-comunista, Zuma também é um fervoroso apoiador da religião. Ele visita igrejas tanto para rezar como para dar sermões. Seu lado religioso também é uma forma de restabelecer sua reputação moral, abalada por escândalos envolvendo sexo e dinheiro. Alguns líderes religiosos têm apoiado Zuma, e uma igreja chegou a declará-lo "pastor honorário". Para muitos negros sul-africanos, isso mostra que Zuma é como eles - capaz de cometer erros e alguém que precisa de orações e redenção, não de punição e vingança. Mas para o líder religioso mais famoso da África do Sul, o arcebispo Demond Tutu, o veredicto sobre Zuma é diferente. Ele defende que Zuma seja julgado por corrupção. "Se ele é inocente como se diz, que seja um tribunal que o diga... no momento, eu não posso dizer que estou ansioso para vê-lo como meu presidente", disse Tutu, que já ganhou um Prêmio Nobel da Paz e é um dos símbolos da reconciliação sul-africana após o fim do apartheid. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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