Análise: Plano de Obama para retirada de tropas talvez não agrade a ninguém

Presidente americano tenta seguir vontade popular a contragosto de seu secretário da Defesa e de chefe militar.

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Por Mark Mardell
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O presidente dos EUA, Barack Obama, argumentou, em discurso nesta quarta-feira, que as tropas extras que ele enviara ao Afeganistão cumpriram sua missão e podem começar a voltar para casa. A retirada é mais rápida do que os militares desejam: 10 mil soldados deixarão a guerra até o final do ano; outros 23 mil sairão do Afeganistão até setembro do ano que vem. Autoridades da Casa Branca dizem que a escalada da ofensiva no Afeganistão deu resultados - a Al-Qaeda está severamente enfraquecida e não tem mais bastiões ao longo da fronteira com o Paquistão. Elas alegam também que o combate ao Talebã na província de Helmand e em Candahar trouxe o desfecho esperado. O preço disso foi alto. Em 2001, no primeiro ano da guerra mais longa lutada pelos Estados Unidos, 12 soldados americanos morreram. No ano seguinte, foram 49. Em 2007, esse número subiu para 117. Em 2009, ano em que Obama ordenou a escalada nos combates, houve 317 soldados mortos; em 2010, foram 499 mortos. A um custo de US$ 2 bilhões de dólares por semana, o conflito afegão exige recursos imensos de um país constantemente preocupado com o tamanho de sua enorme dívida. Conselhos Mas os planos de Obama para uma rápida retirada parecem se opor ao conselho que ele recebeu de seu secretário da Defesa, Robert Gates (que está prestes a se aposentar), e do general David Petraeus, atual comandante das forças internacionais de guerra no Afeganistão (e indicado por Obama para ser o novo diretor da CIA). No Pentágono, a opinião é de que o plano de mudar as operações no Afeganistão para uma estratégia de contrainsurgência estava funcionando, mas precisava de mais um pouco mais de tempo. Talvez Obama tenha notado que generais sempre acreditam que guerras podem ser ganhas, desde que com mais tempo e mais soldados. Mas, com uma eleição presidencial se aproximando, a retirada rápida do Afeganistão talvez seja a vontade popular - pelo menos é isso o que indicam as mais recentes pesquisas de opinião. O perigo corrido por Obama é o de não agradar a ninguém. Alguns democratas também apoiam a saída rápida do território afegão. Isso também é defendido por ao menos um pré-candidato republicano, John Huntsman, que qualificou de "prudente" a retirada de 10 mil soldados da guerra ainda neste ano (apesar de seus comentários serem prévios ao anúncio oficial de Obama, nesta quarta). O presidente pode detalhar mais seu plano de transferir as operações de combate às tropas afegãs até 2014 (prazo estipulado para a retirada final). Mas vale a pena lembrar que, quando o último soldado parte da ofensiva extra de Obama regressar aos EUA, no ano que vem, ainda restarão 68 mil militares americanos lutando no Afeganistão. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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