
31 de julho de 2019 | 05h00
Pela maior parte dos últimos dois anos e meio, o Reino Unido se deu o luxo de negociar os termos de sua saída da União Europeia sob pouca pressão dos mercados financeiros. Mas o novo premiê, Boris Johnson, pode em breve lamentar o fim desses tempos calmos. Na segunda-feira, a libra caiu mais de 1,3%, para US$ 1,22. Os investidores começam a mostrar a “BoJo” o que acham de seu plano.
Os investidores estão certos de mais uma vez tentarem se cobrir. Um Brexit sem acordo seria um desastre para o Reino Unido, na medida em que ficaria subitamente mais difícil trocar bens e serviços com a UE, principal parceira comercial do Reino Unido. O mercado interno desabaria, arrastando consigo os preços de vários bens.
O Banco da Inglaterra poderia tentar reduzir o choque inundando a economia com dinheiro, mas teria de levar em conta o impacto que uma súbita depreciação da moeda teria na inflação. Em qualquer caso, seria pouco para evitar o dano à rede de suprimento e restaurar a confiança do mercado. As consequências de um separação traumática são tão assustadoras que bastou uma ameaça para derrubar a libra.
A grande pergunta é como tudo isso vai influir nas negociações entre Johnson e Bruxelas. O premiê espera que uma atitude mais muscular vá levar a UE a afrouxar os termos do acordo de retirada negociado com Theresa May. Johnson está empenhado em sua tática de forçar a negociação com a ameaça de uma desaceleração econômica com o restante da UE. Embora seja verdade que um Brexit sem acordo afetaria toda a UE, trata-se de um lance desesperado. Se a tempestade da libra desta semana continuar, ela deixará a equipe de negociadores britânicos sob enorme pressão.
Obviamente, o Reino Unido está numa posição econômica muito mais forte que a da Grécia ou da Itália quando negociaram com Bruxelas. Mas, como Atenas e Roma, ela está muito mais exposta a um ataque dos investidores que o restante da UE – apenas, nas circunstâncias, está mais vulnerável por sua moeda que por seus bônus. Uma libra despencando é uma constante lembrança do que o Reino Unido tem a perder se sair sem um acordo. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ
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