Análise: Retirada de tropas na Síria reduz credibilidade dos EUA

Turquia vê curdos como terroristas, mas forças dos EUA que trabalharam com as FDS passaram a admirar o espírito de união dos curdos e sua devoção em matar combatentes do EI

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Por James Hohmann
Atualização:

A errática política externa do presidente Donald Trump faz vários aliados duvidarem, com razão, de seu comprometimento com a segurança deles e da disposição de socorrê-los em horas de necessidade. Tropas dos EUA começaram a se retirar da Síria, abrindo caminho para os turcos atacarem as forças curdas que foram parceiras fiéis dos americanos na luta contra o Estado Islâmico

A retirada (que os curdos chamam de traição) começou horas depois de Trump falar no domingo pelo telefone com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. As Forças Democráticas da Síria (FDS) começaram recentemente a reduzir sua defesa contra uma incursão turca acreditando que os americanos estariam tentando negociar um acordo entre as duas partes.

As Forças de Proteção do Povo (YPG) sãouma milícia curda considerada terrorista por Ancara, mas aliada de Washington na luta contra o Estado Islâmico Foto: Mauricio Lima / The New York Times

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Agora, as FDS serão deixadas à própria sorte. Especialistas em segurança nacional advertem que esse abandono dos curdos por parte de Trump terá um efeito assustador não apenas nessa região, mas em todo o mundo, solapando a credibilidade dos EUA como proteção contra uma China ascendente e uma Rússia revanchista.

“Pelo menos o governo Trump é coerente: estamos ferrando nossos aliados, parceiros e amigos”, disse John Sipher, que trabalhou durante 28 anos em atividades clandestinas da CIA. “O recado que agora mandamos é: ‘Não confiem nos EUA, mesmo que tenham derramado sangue em sua defesa. Se quiserem favores, ergam uma Trump Tower’.”

Em dezembro, pouco depois de outra conversa ao telefone com Erdogan, Trump pegou todo mundo de surpresa ao tuitar que os EUA retirariam suas tropas da Síria. Jim Mattis renunciou a seu cargo de secretário de Defesa e Brett McGurk deixou o posto de enviado especial de Trump à coalizão formada para derrotar o EI. 

McGurk, que hoje leciona na Universidade Stanford, considera a decisão de Trump um “presente para Rússia, Irã e EI”. Segundo ele, “Trump toma decisões impulsivas, sem conhecimento de causa ou deliberação. Ele blefa e deixa nossos aliados expostos, enquanto os adversários pagam para ver. São objetivos minimalistas de um presidente minimalista, sem base em fatos, sem estudo de opções ou sem considerar contingências”, disse McGurk.

A Turquia vê os curdos como terroristas, mas as forças dos EUA que trabalharam com as FDS passaram a admirar o espírito de união dos curdos e sua devoção em matar combatentes do EI. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ *É JORNALISTA 

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