
22 de abril de 2020 | 04h00
No início de março, o presidente Donald Trump ainda subestimava o coronavírus, mas havia uma medida que ele considerava importante para impedir a pandemia: um muro na fronteira com o México. No dia 10, ele tuitou: “Precisamos do muro, mais do que nunca!” No mesmo dia, autoridades sanitárias do governo diziam que barreiras físicas não adiantavam contra o vírus.
Apesar da falta de utilidade do muro, Trump repetidamente insistiu no assunto. Na segunda-feira, ele pediu ao almirante Brett Giroir uma atualização sobre a obra. Em seguida, levou as coisas a um outro patamar, ordenando a suspensão temporária da imigração para o país.
O momento é curioso. O coronavírus já está se espalhando há três meses pelos Estados Unidos, que têm mais casos confirmados do que qualquer outro país no mundo – o que significa que a disseminação comunitária é o maior obstáculo no momento.
Outra coisa estranha é tomar a decisão mais restritiva de seu governo, em matéria de imigração, enquanto usa o argumento de que o surto está sendo controlado, para pressionar pela abertura de partes do país.
Embora ainda não se saiba o impacto prático da medida, não se pode ignorar que ela foi tomada no momento em que Trump é criticado pela resposta atrasada que deu à pandemia.
Pressionado pelas críticas de que minimizou o surto, o presidente costuma alardear a proibição de viagens à China, decretada no dia 31 de janeiro, mas se esquece de mencionar que vários países já haviam adotado medidas semelhantes e não diz o que ele fez em fevereiro e início de março para conter a pandemia.
Por isso, proibir a imigração agora permite que ele tenha alguma medida concreta para vender aos eleitores, não importa a eficácia da decisão a essa altura do jogo. Suspender a entrada de imigrantes significa avançar em uma promessa de campanha, que costuma ser aplaudida em seus comícios, e aumentar suas chances de ser reeleito em novembro.
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