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Impeachment: próximo de Trump, Sondland não é uma testemunha qualquer

Embaixador dos EUA na União Europeia é a figura mais próxima ao presidente a depor no processo

Por Aaron Blake e W. Post
Atualização:

O embaixador dos EUA na União Europeia, Gordon Sondland, é a figura mais próxima ao presidente Donald Trump até agora a depor ao Congresso no processo de impeachment aberto pelos democratas. Três razões pelas quais seu depoimento foi importante: 

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1–Ligar o caso ao presidente

Quase todas as testemunhas até agora disseram que existe algo errado em pedir investigações específicas à Ucrânia, incluindo uma envolvendo os Bidens. Mas nenhuma delas afirmou que Trump condicionou uma ajuda americana ou um encontro na Casa Branca a tais investigações. Sondland, porém, em seu depoimento de abertura, foi direto ao ponto. Ele também visou ao advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani.

“Como já testemunhei anteriormente, Giuliani pediu que fosse agendada uma visita do presidente ucraniano à Casa Branca”, disse ele. “Giuliani também queria que a Ucrânia fizesse uma declaração pública anunciando investigações sobre a eleição de 2016 e a Burisma (empresa estatal de energia da Ucrânia). Ele estava expressando a vontade do presidente dos Estados Unidos, pois sabia que essas investigações eram importantes para o presidente.”

O embaixador americano para a União Europeia, Gordon Sondland, chega ao Capitólio Foto: Erin Schaff/The New York Times

Em outro ponto, Sondland disse que em sua conversa telefônica de 26 de julho com Trump – no dia seguinte à conversa de Trump com o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski – ficou surpreso por Trump não mencionar as investigações, “particularmente levando-se em conta o que tínhamos ouvido de Giuliani sobre as preocupações de Trump”.

É tentador dizer que Sondland esteja implicando Trump. Não é, porém, o caso nesse depoimento. Mas Sondland parece estar dizendo que Trump deu sua bênção, o que é significativo.

2-‘Fale com Rudy’ foi mesmo uma ordem

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De vários modos, o testemunho de Sondland foi pior para Trump do que a audiência de terça-feira envolvendo o ex-enviado especial à Ucrânia Kurt Volker e o ex-assessor da Casa Branca Tim Morrison. E, num ponto-chave, o testemunho de Sondland contradiz os depoimentos dos dois.

Em seu depoimento na terça-feira, perguntaram a Volker se em 23 de maio Trump ordenou que ele, Sondland e o secretário de Energia, Rick Perry, conversassem “com Rudy”. Volker sugeriu que não se tratou de uma ordem direta.

Rudy Giuliani, advogado pessoal do Donald Trump, na linha de frente da defesa do presidente americano Foto: Andrew Harnik/AP

“Não entendi como uma instrução, quero deixar claro”, disse Volker. “Quando estávamos dando ao presidente nosso parecer sobre Zelenski e sobre o rumo que a Ucrânia estava tomando, ele disse:

‘Não foi o que ouvi dizer. Ouvi dizer que ele tem pessoas terríveis em torno de si. Falem com Rudy’. Não entendi como uma instrução, mas apenas parte do diálogo”.Sondland, porém, foi claro nesse ponto: foi mesmo uma ordem.

“Em resposta a nossos persistentes esforços para mudar sua visão, o presidente Trump nos mandou ‘falar com Rudy’. Em meu entender, ‘falem com Rudy’ significa falar com Rudy Giuliani, o advogado pessoal do presidente. É uma ordem.” E isso mais uma vez conecta Trump ao caso – de um modo que Volker evitou.

3-Culpando o governo por um testemunho falho

Se Sondland está apontando o dedo diretamente para Trump é um assunto para debate – a ser esclarecido à medida que as audiências prossigam. O que está claro é que Sondland não está contente com o governo.

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Sondland disse repetidas vezes em seu depoimento de abertura que o Departamento de Estado e a Casa Branca não lhe deram acesso a coisas de que ele precisava para um testemunho prévio acurado. Daí, aparentemente, as inconsistências e necessidade de esclarecimentos.

“Esse processo tem sido desafiador e, em muitos aspectos, menos que honesto”, disse Sondland. “Não tive acesso a todas minhas gravações telefônicas, e-mails e outros documentos do Departamento de Estado, e fui instruído a não trabalhar com minha equipe da União Europeia para reunir arquivos relevantes.”

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski(E), e Donald Trump Foto: Saul Loeb/AFP

Ele acrescentou que nunca foi um “tomador de notas”, e a falta dessas informações dificultou seu depoimento.

“Meus advogados fizeram inúmeros pedidos ao Departamento de Estado e à Casa Branca para ter acesso a esse material, que no entanto nunca me foi entregue”, disse.

“(O governo) também se recusou a compartilhar o material com esta comissão. Não são documentos sigilosos e nada impedia que fossem liberados. Minha memória não é perfeita e o acesso ao material do Departamento de Estado tornariam esse processo mais transparente.”/ TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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