Análise: Trump não tem culpa pela agressão dos iranianos

A inquietação pública não leva em conta o fato de que Teerã tem travado a própria guerra contra EUA e seus aliados durante décadas

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Por Eli Lake e BLOOMBERG
Atualização:

Enquanto o presidente Donald Trump reflete sobre uma ampla resposta ao que, segundo afirma, foi um ataque iraniano contra petroleiros no Golfo Pérsico, que ocorreu na semana passada, seus críticos não questionam a possível culpa do Irã. Pelo contrário, estão perguntando: “E o que o senhor esperava?”

Um dos petroleiros atacados no Golfo de Omã; suspeita recaiu sobre o Irã Foto: ISNA/Handout via REUTERS

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Assim, o deputado democrata Adam Schiff, presidente da Comissão de Inteligência da Câmara, afirmou que a prova da responsabilidade do Irã pelo ataque “é muito forte e convincente”. Mas lamentou o fato de Trump ter afastado os EUA de seus aliados. Segundo Schiff, esses aliados e analistas de inteligência americanos alertaram que esta reação do Irã era “provável” e seria resultado de uma política que culminou com a saída dos EUA do acordo nuclear iraniano.

O alerta de Schiff é correto. Ele erra, contudo, ao sugerir que, de algum modo, os EUA são responsáveis pelo recente ataque do Irã, argumento usado por outros críticos de Trump. Este tipo de análise tem levado a algumas recomendações políticas bizarras. Diplomatas europeus já vêm insistindo para Trump abandonar sua campanha de máxima pressão e adotar uma posição de “máxima contenção”.

Isso equivale a pedir para ser chantageado. E agora que o Irã ameaça extrapolar os limites para o enriquecimento de urânio definidos no acordo nuclear de 2015, é mais importante do que nunca compreender que contenção e diálogo não dobrarão o país.

Comecemos com um detalhe óbvio: seja ajudando a derrubar o governo iemenita ou a salvar o ditador da Síria que usa gases venenosos contra o próprio povo, o Irã estava desestabilizando o Oriente Médio ao mesmo tempo em que negociava com o Ocidente seu programa nuclear, a partir de 2013. Esta é uma razão pela qual Trump tenta agora a tática da pressão máxima para fazer com que o Irã encerre suas aventuras na região.

Outro aspecto da crítica à política de Trump é o temor de que adotar uma política de alto risco para o Irã leve a uma repetição da Guerra do Iraque, que teve início em 2003. Pete Buttigieg, candidato à vaga democrata para presidente, falou da sua preocupação em uma entrevista. Ele se referiu à presença de John Bolton como assessor de Segurança Nacional de Trump como o motivo de estar alarmado.

Esta não é a maneira mais correta de ver a situação. Para começar, Trump e seus assessores não planejam uma invasão em larga escala e uma reconstrução do Irã, como ocorreu com o Iraque durante o governo de George W. Bush, após os atentados de 11 de setembro de 2001. O Pentágono anunciou, na segunda-feira, o envio de soldados para a região com “objetivos defensivos”.

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Autoridades do governo americano dizem que um ataque limitado a instalações navais iranianas vem sendo estudado, juntamente com opções menos contundentes, como escoltas militares para alguns petroleiros. Há 25 anos, esse tipo de ação militar é conhecida como “diplomacia de míssil de cruzeiro”. 

Muitas críticas foram feitas à decisão do presidente Bill Clinton de atacar alvos no Sudão e no Afeganistão em resposta aos ataques à bomba cometidos pela Al-Qaeda contra duas embaixadas americanas na África. Mas não vimos nenhuma alegação convincente na época de que os ataques eram um pretexto para uma invasão americana, como não existe nenhuma agora de que ataques limitados contra instalações navais americanas levarão a uma guerra terrestre.

E, mais importante, a inquietação pública quanto a uma guerra com o Irã não leva em conta o fato de que o Irã tem travado a própria guerra contra EUA e seus aliados durante décadas. O país tem fornecido aos insurgentes no Iraque e no Afeganistão as bombas plantadas nas margens de estradas que mutilaram e mataram soldados americanos. Os iranianos tentaram assassinar o embaixador saudita em Washington e, mais recentemente, diplomatas e agentes do governo iraniano foram ligados a complôs terroristas na Europa Ocidental.

A belicosidade do Irã começou muito antes da campanha de máxima pressão de Trump. Ela tem sido uma característica da liderança iraniana desde a revolução de 1979. Se os aliados na Europa e os democratas no Congresso estão preocupados com uma guerra contra os iranianos, deveriam responsabilizar o país pelas suas ações – e não culpar um governo que tenta impedi-las. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO É COLUNISTA