Anistia Internacional acusa Israel de crimes de guerra

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Por Agencia Estado
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Israel cometeu "crimes de guerra", inclusive assassinatos ilegais, em Jenin e Nablus durante a grande ofensiva militar nessas cidades da Cisjordânia em abril, denunciou o grupo de direitos humanos Anistia Internacional. As Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram que a ofensiva foi lançada em autodefesa, em resposta a ataques terroristas palestinos contra civis israelenses. Em julho, a Anistia havia emitido um relatório que considerava os ataques suicidas palestinos como "crimes contra a humanidade". Muitos atacantes suicidas saíram de Jenin e Nablus. Em seu último relatório, intitulado "Israel e os Territórios Ocupados: Protegido de Investigação - Violações das FDI em Jenin e Nablus", a Anistia disse existirem "claras evidências de que alguns atos cometidos pelas Forças de Defesa de Israel... foram crimes de guerra". Israel promoveu "assassinatos ilegais, tortura e maus tratos aos prisioneiros, destruição perversa de centenas de casas", segundo a AI. Soldados também bloquearam o acesso de ambulâncias e impediram assistência humanitária, deixando os feridos e mortos jogados nas ruas por dias, e usaram palestinos como "escudos humanos" enquanto buscavam supostos militantes, afirmou a Anistia. "Até agora, as autoridades israelenses não assumiram sua responsabilidade para levar à Justiça os perpetradores de sérias violações dos direitos humanos", de acordo com o relatório da AI. O porta-voz do Ministério do Exterior de Israel, Daniel Taub, acusou a Anistia de ignorar as razões que levaram às incursões militares. "O relatório descreve Israel como indo à Cisjordânia em meio a um vazio", disse. "Existem realmente, no caso, dilemas para qualquer democracia", disse Taub, que acusou combatentes palestinos de usar bairros residenciais e ambulâncias como cobertura durante os confrontos. O ex-chanceler israelense Shimon Peres advertiu contra dar muito peso ao relatório da Anistia. "A Anistia é uma organização que tenta criar... um mundo melhor, mas ela não é um tribunal nem um juiz", argumentou. O líder palestino Yasser Arafat disse que o realtório era "muito importante" e pediu à comunidade internacional para pôr um fim à ocupação militar israelense de áreas palestinas. Israel lançou uma ofensiva na Cisjordânia em 29 de março, depois de uma série de atentados suicidas a bomba, perpetrados por palestinos. Jenin foi o palco dos combates mais duros - mais de 50 palestinos e 23 soldados israelenses foram mortos. Ainda existe uma discussão sobre quantos dos palestinos mortos eram civis e quantos, combatentes. Israel garante que a grande maioria era de combatentes. "Essa infra-estrutura terrorista foi estabelecida no coração de uma população palestina inocente, para usá-la como cobertura", afirmou o Exército do Estado judeu, num comunicado. Um relatório anterior do Human Rights Watch, um grupo baseado nos EUA, constatou que 22 dos palestinos mortos eram civis. O relatório da Anistia afirma que mais da metade dos palestinos mortos em Jenin eram civis, mas não deu números específicos. O secretário do gabinete palestino, Ahmed Abdel Rahman, aplaudiu as acusações da Anistia contra Israel. "O Conselho de Segurança (da ONU) e as partes que assinaram as Convenções de Genebra deveriam tomar esse relatório como prova de crimes de guerra cometidos pelo governo israelense contra o povo palestino", comentou. A ONU abriu uma investigação sobre os confrontos em Jenin após os palestinos denunciarem que Israel cometeu um massacre no campo de refugiados. A ONU considerou que não havia evidências para apoiar a acusação palestina, mas afirmou que tanto as forças israelense quanto os militantes palestinos violaram leis internacionais. O estudo da ONU sobre Jenin concluiu que Israel provocou o atraso de assistência médica e humanitária para os palestinos. Kathleen Cavanaugh, uma pesquisadora da Anistia Internacional, disse que o tenente-general Shaul Mofaz, que deve se tornar esta semana o novo ministro da Defesa de Israel, pode ser acusado de crimes de guerra, por seu papel como chefe do Estado Maior durante as incursões. Perguntada se Mofaz era culpado dos crimes apontados no relatório, ela respondeu: "Não importa se alguém na verdade executou ordens em campo. Se estavam conscientes, se estavam envolvidos no planejamento e nas operações - todos da cadeia de comando podem ser responsabilizados".

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