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Antes de pedir uma bebida nesta cidade é preciso checar se você está na Inglaterra

Uma parte de Llanymynech fica do lado do País de Gales, onde as restrições de funcionamento de pubs e restaurantes vai até o dia 13

Por Stephen Castle
Atualização:

LLANYMYNECH - Em tempos normais, ninguém liga muito para a fronteira invisível entre a Inglaterra e o País de Gales que atravessa Llanymynech, vilarejo que tem um posto dos correios, uma igreja e nada menos que três pubs.

Mas a fronteira anglo-galesa, pela qual tanto se guerreou séculos atrás, voltou a ser uma divisa contestada, desta vez pelos bebedores britânicos.

Cidade de Llanymynech, com o lado esquerdo da estrada principal fazendo parte da Inglaterra e o lado direito, do País de Gales Foto: Andrew Testa/The New York Times

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A Inglaterra permitiu que restaurantes, cafés e bares reabrissem no sábado 4, o que significa que dois pubs de Llanymynech poderiam atender os clientes depois de mais de cem dias de lockdown por causa do coronavírus.

A menos de 100 metros de distância, no lado galês da vila, o Dolphin Inn continuou rigorosamente fechado, seguindo as regras do governo galês, que adiou a reabertura de bares até 13 de julho - e, depois dessa data, permitirão clientes apenas em jardins ou outros espaços ao ar livre.

A decisão colocou o vilarejo sob os holofotes da mídia e lembrou aos moradores a existência de uma fronteira administrativa - mais uma fronteira estadual do que uma fronteira internacional com pontos de controle de passaporte - que atravessa a vila, cortando um prédio ao meio e serpenteando pela paisagem ao redor.

O episódio obrigou John Turner, proprietário do Dolphin Inn, a pensar no futuro e se perguntar se deveria desistir do negócio de pubs. Mas, no sábado, o dilema não o impediu de tomar uns tragos na concorrência: o pub Bradford Arms - na Inglaterra -, onde ele ficou meio filosófico depois de uma pint de cerveja.

Pub The Dolphin Inn, do lado galês de Llanymynech, continua fechado até 13 de julho Foto: Andrew Testa/The New York Times

“É ridículo”, disse Turner, que é inglês, sobre as restrições. “Mas tem que existir uma fronteira em algum lugar, e acontece que estamos em cima dela”.

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As regras são diferentes desta vez porque o governo galês de Cardiff tem poder sobre questões como saúde, educação e administração pública. Assim como a Escócia, o País de Gales adotou uma abordagem mais cautelosa do que a Inglaterra nos controles do coronavírus, mantendo, por exemplo, as restrições de viagem e aguardando mais tempo para reabrir lojas não essenciais.

O País de Gales planeja reabrir o comércio mais lentamente, em parte devido às críticas de alguns cientistas de que a Inglaterra está se sujeitando a um risco desnecessário ao abrir bares, restaurantes e muitas outras empresas ao mesmo tempo - e ainda mais num sábado, quando as pessoas tendem a beber mais.

Especialistas em saúde pública dizem que locais ao ar livre representam menos risco de disseminação do vírus, e é por isso que os fregueses de bares galeses terão de se encontrar em cervejarias ou estacionamentos quando as regras forem relaxadas, pelo menos no começo.

Tudo isso obrigou os moradores da região da fronteira a pensar no lugar onde moram, nas autoridades que estão tomando as decisões e nas pessoas que devem culpar por qualquer inconveniente.

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“Você não fica pensando na fronteira toda hora, mas ela vem causando dores de cabeça porque o País de Gales tomou decisões diferentes”, disse Ruth Allcock, educadora física aposentada que mora na aldeia vizinha de Pant, Inglaterra, a caminho do Bradford Arms para almoçar com o marido. Allcock acrescentou que as restrições às viagens no País de Gales deixaram mais difíceis as visitas aos netos que moram do outro lado da fronteira.

Dentro do pub, as pessoas estavam felizes por voltar aos lugares familiares. Jonathan Lawley, jardineiro, disse que chegara ao estacionamento do pub dez minutos antes, só para esperar a abertura às 11h30. “Se eles fossem abrir às seis da manhã, eu chegaria aqui às dez para as seis”, disse ele.

Jason Farr no pub Cross Keys, do lado inglês de Llanymynech Foto: Andrew Testa/The New York Times

Mick Williams, engenheiro de aeronaves aposentado, confessou ter viajado do País de Gales para beber - embora isso significasse só vir a pé do outro lado da vila.

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Mas, no posto de correio e nas lojas do lado galês do vilarejo, Jennifer Bridger disse que ela e o marido não sairiam para beber até que pudessem completar o “triângulo” - visitando os três bares locais.

Bob Hedley, proprietário do Bradford Arms, disse que estava feliz com a reabertura, mas, depois de fazer um estoque de quase 500 litros de cerveja, ainda não precisara pedir suprimentos extras. Umas quarenta pessoas haviam passado pelo Bradford Arms até o final da tarde, mas não havia sinal de invasão em massa.

Cartaz informa que o lado galês de Llanymynech ainda não reabriu o comércio Foto: Andrew Testa/The New York Times

A essa hora, Turner já havia retornado ao Dolphin Inn, explicando que tinha outros planos para a noite e os próximos dias, quando visitaria a mãe. “Não estarei por aqui para ver tudo isso acontecer na semana que vem”, disse ele. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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