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Antiabortistas apóiam Obama

Senador recebe inesperada adesão de políticos da ala mais conservadora de seu partido

Por Shailagh Murray
Atualização:

O senador Robert Casey, da Pensilvânia, e o ex-congressista Timothy Roemer, de Indiana, que se opõem ao aborto, são uma anomalia dentro do Partido Democrata, que defende amplamente o direito de livre escolha da mulher. Ambos, porém, declararam apoio ao senador Barack Obama, que é considerado "o candidato mais pró-aborto da história". Obama nunca apoiou uma única medida que pudesse restringir o aborto. Casey e Roemer, contudo, preferiram ignorar o histórico de Obama e estão promovendo o candidato entre seus aliados antiaborto como alguém que pode conseguir um novo consenso sobre essa questão. "Ele tem uma habilidade rara para acalmar os ânimos, promover um acordo e criar meios para que as pessoas cheguem a um consenso", disse Casey. O apoio dos dois é um forte sinal, tendo em vista dois campos de batalha críticos: a Pensilvânia, cujas primárias estão marcadas para o dia 22, e Indiana, onde a votação será em 6 de maio. POLÊMICA Os dois Estados são redutos de democratas conservadores, que rejeitam a ortodoxia do partido em relação a alguns temas centrais. O aval de Casey é importante porque a capacidade de Obama de chegar a esses eleitores ficou ainda mais difícil depois das últimas declarações do senador, que afirmou que os eleitores da Pensilvânia estão "frustrados" com a economia e que, por isso, recorrem a coisas como religião, armas e sentimentos antiimigração. No fim de semana, em campanha nos dois Estados, em Indiana e Pensilvânia, a senadora Hillary Clinton aproveitou para explorar os comentários e chamar o senador de "elitista". No domingo, Casey respondeu, dizendo que quanto mais seus eleitores conhecessem Obama, mais entenderiam seus valores. ERRO Obama não se referiu ao aborto quando fez essa polêmica declaração na semana passada, durante evento para arrecadação de fundos na Califórnia, mas em Indiana, na semana passada, ele disse que os dois lados pecavam pelo exagero no debate sobre o aborto. "O erro que as forças pró-aborto cometeram no passado foi o de não admitirem que muitas questões morais estão envolvidas no processo", disse. "Assim, o debate ficou tão polarizado que ambos os lados tendem a exagerar as posições do outro. Ninguém pode ser a favor do aborto. Abortos nunca são uma coisa boa." Dessa forma, o senador vem se empenhando para conquistar o apoio das mulheres, que tendem a apoiar Hillary. Entretanto, em pelo menos uma primária, a de New Hampshire, em janeiro, a campanha da ex-primeira-dama conseguiu trazer para o debate público o comprometimento de Obama com a causa. BANDEIRA HISTÓRICA Hillary também procurou afastar-se da política do partido e deixou isso claro no domingo à noite, quando afirmou que continuará a fazer o que puder para reduzir o numero de abortos no país. Seja quem for o indicado do partido, os democratas provavelmente tentarão neutralizar esse assunto nas eleições de novembro. Em conjunto com o líder dos democratas no Senado, Harry Reid, Hillary apresentou um importante projeto de lei sobre a prevenção do aborto, em janeiro de 2005, que foi apoiado por Obama. Qualquer tentativa de tirar a importância do assunto representaria uma mudança marcante em um partido para o qual o direito ao aborto sempre foi uma bandeira histórica. Na Convenção Nacional Democrata de 1992, por exemplo, o pai de Casey - o então governador da Pensilvânia, Robert Casey, morto em 1995 - foi impedido de discursar por recusar-se a apoiar o então candidato democrata, Bill Clinton, nessa questão. Uma década depois, Casey Junior tem as mesmas convicções e teve dificuldades para ganhar o voto do eleitorado feminino quando se candidatou ao Senado, em 2002. ROEMER As posições de Roemer contra o aborto também atrapalharam sua carreira. Alguns membros do partido opuseram-se à sua candidatura à presidência do Comitê Nacional do Partido, em 2005. Apesar de ser contra o aborto, Roemer disse ter chegado à conclusão de que esse tipo de abordagem - do tudo ou nada -, que ambas as partes têm defendido há anos, paralisou todo o espectro político, da assistência médica à política internacional. Quanto a Obama, disse Rohmer, o senador disse que as pessoas devem ser livres para fazer o que quiserem. Por fim, Rohmer deixa aberta a possibilidade de que haja outros meios para solucionar alguns desses problemas.

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