11 de fevereiro de 2020 | 09h04
DUBLIN - Após um processo de recontagem de votos que durou mais de dois dias, a República da Irlanda - país mais ao sul da Ilha da Irlanda, que não faz parte do Reino Unido - confirmou o resultado do processo eleitoral realizado no último sábado, 8. A eleição, já tachada pela imprensa local como uma ‘revolução das urnas’, apontou vitória do partido centrista Fianna Fáil (FF), mas marcou também a ascensão do Sinn Féin, partido nacionalista e de esquerda, considerado por anos como o braço político do IRA.
Os nacionalistas conquistaram a maioria dos votos nominais, com 24,5% do total, a frente do próprio Fianna Fáil, 22,2%, e do partido do atual primeiro ministro do país, o Fine Gael. As regras eleitorais do país, contudo, levam em consideração o número de candidatos por partido, o que fez com que os centristas tivessem maioria, com 38 cadeiras no parlamento, seguidos pelo Sinn Féin, com 37, e pelo Fine Gael, com 35.
O sucesso eleitoral do ‘partido do IRA’ está diretamente ligado a sua líder, a dublinesa Mary Lou McDonald, que quase conseguiu romper com mais de 90 anos de alternância entre as outras duas siglas mais votadas no poder. Durante a campanha, McDonald atacou pontos fracos da economia flutuante do país e insatisfações de grande parte dos cidadãos, como o aumento do preço dos aluguéis e a piora do sistema público de saúde, transformando esse sentimento em votos.
“Esta campanha apontou para a mudança. O povo votou no Sinn Féin para que nós estejamos no governo, para que façamos a diferença, para colocar-nos à prova e para que cumpramos com nossas promessas”, declarou McDonald em uma entrevista na rede pública RTE.
Formação de governo envolve superar tabus
Finalizado o processo eleitoral, os partidos terão de iniciar conversas para a formar o novo governo. No entanto, para que a Irlanda volte a ter um governo de coalizão, alguns tabus terão que ser superados.
Alternando o poder desde 1922, o Fianna Fáil e o Fine Gael mantém uma rivalidade histórica, com fatos antigos e recentes que dificultam a formação de uma aliança. O exemplo mais recente é o próprio governo atual, liderado pelo Fine Gael, que teve que governar com minoria em razão da negativa de aliança pelo Fianna Fáil.
Se a aliança entre as tradicionais siglas é difícil pelo processo histórico, o alinhamento com o Sinn Féin é mal-visto por lideranças dos dois partidos. Enquanto o atual primeiro-ministro, Leo Varadkar, descartou qualquer alinhamento com os nacionalistas durante a campanha, o Fianna Fáil fez críticas mais moderadas, mas pontuou que as diferenças entre as propostas econômicas é muito grande.
Por outro lado, a líder do Sinn Féin declarou que não pretende unir-se aos partidos mais tradicionais. McDonald disse que pretende formar governo sem os dois partidos, o que é apontado por especialistas como irreal. Para que haja um governo de coalizão, os partidos menores, como o Partido Verde, os sociais-democratas e os trabalhistas terão que se alinhar para formação da maioria. /REUTERS e EFE
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.