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Anúncio de Abbas é recebido com aparente calma

O presidente palestino convocou eleições antecipadas devido ruptura com Haniyeh

Por Agencia Estado
Atualização:

A ruptura do presidente palestino, Mahmoud Abbas, com o primeiro-ministro, Ismail Haniyeh, ao anunciar nesta sábado a convocação de eleições antecipadas foi recebida com aparente calma na Cisjordânia e em Gaza, mas suas conseqüências ainda são imprevisíveis. O anúncio de Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e dirigente do movimento nacionalista Fatah, foi rejeitado solenemente pelo movimento islâmico Hamas, ao qual pertence o primeiro-ministro Haniyeh. Haniyeh acusa Abbas de pretender "derrubar, contra a vontade do povo, um governo democraticamente eleito" há menos de um ano, como resultado das eleições legislativas de 25 de janeiro, nas quais o Hamas venceu com folga e contra previsões, que apontavam o Fatah como favorito. Em alguns círculos políticos palestinos acredita-se que a decisão presidencial representa um alto risco tanto para Abbas como para o Fatah, pois não há a certeza de que possam recuperar sua preponderância entre a população palestina. Uma recente pesquisa sobre intenções de voto entre os palestinos indica que o Hamas, mesmo sob os efeitos de um boicote político e econômico internacional, pode voltar a se impor nas urnas. Nas ruas desertas da faixa autônoma de Gaza e na Cisjordânia, onde milicianos do Fatah festejaram o anúncio de Abbas com tiros para o alto, reinava uma aparente calma ao anoitecer. "Antecipar as eleições é um direito meu; posso antecipá-las quando eu decidir", afirmou o presidente da ANP, o que para Mahmoud Zahar, o ministro de Exteriores e dirigente do Hamas, "é a fórmula para uma guerra civil". Abbas respondeu apenas: "Não nos amedrontam". Abbas pronunciou sua mensagem após uma semana de choques armados entre as milícias do Hamas e do Fatah, transformadas nos braços armados da Presidência e do governo palestinos, respectivamente. Em um desses ataques morreram os três filhos de um coronel do Fatah. Em outro atentado, Haniyeh saiu ileso, mas um de seus guarda-costas acabou sendo morto. Um ex-ministro da Informação e assessor político de Abbas, Yasser Abed Rabbo, do setor pacifista palestino, informou este sábado que o presidente consultará na próxima semana a Comissão Central de Eleições, e que o pleito se celebrará em três meses. Segundo o negociador da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) com Israel, Saeb Erekat, será necessário atualizar o censo eleitoral e as eleições não poderiam ser realizadas antes de junho de 2007. Um destacado dirigente da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), Ghayed al-Ghul, pediu que Abbas volte a negociar com Haniyeh um Governo de união nacional. A antecipação das eleições, cuja data Abbas prometeu divulgar em breve, causou satisfação nos países da comunidade internacional que participam do boicote contra o governo do Hamas desde que Haniyeh assumiu suas funções, em março. Esse cerco se deve ao fato de o Hamas, apoiado pelo Irã - onde Haniyeh esteve esta semana -, se negar a reconhecer Israel, o que impede que o estagnado processo de paz no Oriente Médio seja destravado, e que os acordos assinados entre a OLP e Israel desde 1993 sejam respeitados. O primeiro a reagir favoravelmente em Israel foi um "oficial militar superior", que declarou à rádio pública que o pronunciamento de Abbas "é uma importante decisão interna dos palestinos", pois "será uma oportunidade para erradicar o terrorismo e retomar o processo de paz" entre os dois povos. Em Ramala e Gaza, era aguardada para esta noite - quando acabar, em Israel, o dia do descanso judeu - uma reação do governo do primeiro-ministro Ehud Olmert, que, se supõe, também concordará com a ruptura de Abbas com Haniyeh e com o Hamas. A secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, solicitou verba esta semana ao Congresso para fortalecer as forças de segurança de Abbas e a ANP, cuja maioria dos membros pertencem ao Fatah. Rice deve se reunir separadamente com Abbas e com Olmert na segunda quinzena de janeiro, e não se descarta uma "cúpula" entre os dois líderes.

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