O anúncio de que a Coréia do Norte realizará um teste nuclear para reforçar seu sistema de defesa causou uma reação imediata da vizinha Coréia do Sul e do Japão - dois países diretamente ameaçados pelo arsenal norte-coreano - e foi qualificado de "ação provocativa" e "ameaça inaceitável" pelos EUA. Os três países, ao lado de Rússia, China e a própria Coréia do Norte, integram uma mesa de negociações instalada em 2003 para convencer o regime norte-coreano a abandonar seu programa atômico. No entanto, Pyongyang abandonou as conversações no ano passado e se recusa a retomá-las até que os EUA levantem o embargo econômico que estrangula as finanças do país. Washington - que mantém congeladas contas bancárias da Coréia do Norte em paraísos fiscais ao redor do mundo -, rejeita a idéia de iniciar conversas bilaterais com os norte-coreanos enquanto o país não voltar às negociações multilaterais. O ministro de Relações Exteriores do Japão, Taro Aso, qualificou o anúncio de "absolutamente imperdoável" e advertiu que Tóquio reagirá "de modo grave" se o teste for realizado, segundo informou a agência de notícias Kyodo. O governo sul-coreano, por seu lado, aumentou o nível de alerta. "Ampliamos o nossas medidas de segurança ante a ameaça e já começamos a discutir o assunto com os países envolvidos", informou a chancelaria sul-coreana. Depois de a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, ter advertido, no Cairo, que o "ato provocador" de Pyongyang só aumentará o isolamento do país, o embaixador dos EUA na ONU, John Bolton, disse que levaria o caso para o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Funcionários americanos vêm pressionando a China - o país do grupo de negociadores que mantém laços mais fortes com o regime norte-coreano - para que amplie os esforços para trazer a Coréia do Norte de volta às negociações. A Rússia, por meio do chanceler Serguei Lavrov, disse defender negociações diretas entre os EUA e os norte-coreanos. "Partimos do princípio de que essas questões devem ser solucionadas exclusivamente pelas vias diplomáticas e pacíficas", disse Lavrov. Capacidade bélica Analistas americanos estimam que a Coréia do Norte tenha recursos materiais e tecnológicos para construir entre quatro e seis bombas atômicas, mas têm dúvidas sobre a capacidade do país de obter mísseis de longo alcance capazes de atingir a Costa Oeste dos EUA, como Pyongyang alega ter. O país, porém, nunca realizou nenhum teste atômico, como promete fazer agora. Em 5 de julho, a Coréia do Norte realizou provas com sete tipos de mísseis - um deles de longo alcance - que, teoricamente, poderiam transportar ogivas nucleares. No comunicado desta terça-feira, o regime norte-coreano afirmou que o país "jamais seria o primeiro a explodir uma bomba atômica" e acrescentou que o "teste será realizado sob rígidas condições de segurança". Ainda assim, Pyongyang afirmou que o teste é necessário para dissuadir às "ameaças" sofridas pelo regime. "A ameaça extrema de uma guerra nuclear dos EUA, de sanções e pressões obrigam a Coréia do Norte a efetuar um teste nuclear, um processo essencial para reforçar nosso poder de dissuasão nuclear como medida de defesa", dizia a nota assinada pelo Ministério de Relações Exteriores do país. A declaração de Pyongyang - para muitos contraditória - encaixa-se perfeitamente nos padrões seguidos pela Coréia do Norte, que busca criar tensões na Península Coreana na tentativa de ganhar concessões como ajuda econômica.