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Ao lado de Bibi, Obama adverte Irã e defende solução de dois Estados

Na primeira reunião com líder israelense, americano diz que conhecerá saldo de negociações com Teerã ?até o fim do ano?

Por Gustavo Chacra
Atualização:

O presidente dos EUA, Barack Obama, e o primeiro-ministro de Israel, Binyamin "Bibi" Netanyahu, evitaram expor divergências no primeiro encontro oficial entre os dois, contrariando previsões de analistas. A principal diferença deu-se no tom e na terminologia adotada diante da ameaça iraniana e da questão palestina - temas que dominaram a conversa de ontem na Casa Branca. De um lado, Obama defendeu mais iniciativas diplomáticas para impedir o Irã de desenvolver armas nucleares e advogou pela criação de um Estado palestino. Mais conservador, Bibi ressaltou os riscos à existência de Israel, caso Teerã obtenha uma bomba atômica, e disse que os palestinos devem governar a si próprios, mas não usou a palavra "Estado". Obama afirmou que "até o fim do ano, deveremos saber se as discussões envolvendo o Irã já começaram a produzir resultados". "Mas não podemos dialogar para sempre", acrescentou, em advertência a Teerã. Para o líder da Casa Branca, "não é do interesse do próprio Irã desenvolver armas nucleares. Isso provocaria uma corrida armamentista no Oriente Médio que desestabilizaria toda a região". Na avaliação de Obama, expressa logo depois do encontro com Netanyahu, "o Irã pode alcançar sua segurança, o respeito internacional e a prosperidade de seu povo por outros meios". Educado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), uma das mais conceituadas universidades americanas, o premiê de Israel respondeu em um inglês fluente: "O maior perigo que enfrentamos é o risco de o Irã desenvolver armas nucleares. O Irã defende abertamente nossa destruição, o que é inaceitável." Bibi destacou ainda que os interesses de Israel coincidem com os de alguns países árabes, como Egito e Arábia Saudita. "Nunca houve um momento como agora, em que árabes e israelenses sofrem uma ameaça comum", disse. Israel não descarta a possibilidade de lançar uma operação militar preventiva contra o Irã. No fim do ano passado, o então premiê, Ehud Olmert, teria chegado a consultar os EUA sobre uma possível ação, mas recebeu sinal vermelho. A chance de Obama concordar com uma operação desse porte é ainda menor. Mas, em Israel, muitos analistas consideram as iniciativas diplomáticas inócuas, permitindo ao Irã ganhar tempo. Obama foi muito claro ontem ao defender um Estado palestino. "É do interesse não apenas dos palestinos, mas também dos israelenses e dos EUA, uma solução de dois Estados, na qual palestinos e israelenses vivam lado a lado em paz e segurança", disse. Para o presidente americano, o avanço do processo de paz exige, de um lado, que "se encerrem as ações terroristas contra Israel" e, do outro, "que se permita que os palestinos se governem em um Estado independente com desenvolvimento econômico". Bibi iniciou seu discurso dizendo que pretende ter paz com todo o mundo árabe - mas não mencionou a Liga Árabe, que propôs um reconhecimento geral de Israel por seus membros, em troca da retirada israelense dos territórios ocupados. De acordo com o premiê, para haver um compromisso, "os palestinos precisam reconhecer Israel como um Estado judeu" - algo que o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, se recusa a fazer. "Gostaria de deixar claro que não quero governar os palestinos. Quero que os palestinos governem a si próprios, contanto que não tenham alguns poderes que ponham em risco o Estado de Israel", disse o primeiro-ministro. O diálogo com a Síria ficou de fora do comunicado final. Um assessor de Abbas elogiou o discurso de Obama, mas se disse desapontado com Bibi. O governo iraniano não se manifestou sobre o encontro de ontem. Sua agência de notícias, a Irna, nem sequer noticiou a reunião.

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