Aos 19 anos, alemã Naomi Seibt assume papel de 'Anti-Greta'

Jovem vira estrela da direita que duvida que o homem seja culpado pelo aquecimento global

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Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla e correspondente
Atualização:

WASHINGTON - Todas as atenções no CPAC, a conferência da direita americana, estavam voltadas para o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo. A fila para entrar no auditório principal atrasava o evento, mas cerca de 50 pessoas optaram por uma sala menor no Gaylord Hotel, sem autoridades do governo. Às 12h30, uma jovem de saia azul e tênis All Star subiu ao palco. A alemã Naomi Seibt, de 19 anos, é a antítese da ativista Greta Thunberg. Ela sentou-se abaixo do slogan da CPAC, “América versus Socialismo”, para um pronunciamento e para responder perguntas.

Ativista alemã Naomi Seibt discursa durante conferência conservadora nos Estados Unidos. Foto: Samuel Corum/Getty Images/AFP

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Ela diz não ser “negacionista” das mudanças climáticas, para na sequência afirmar que é “ridículo” acreditar que as emissões de CO2 do ser humano têm impacto no clima. Ela também garante que não quer ser a “Anti-Greta”, mas invoca ideias e o nome da ativista sueca a todo momento.

“Fui doutrinada na escola para ser uma alarmista climática, mas fui inspirada por pessoas que encontrei online e cientistas a pensar mais”, disse a alemã. “A propaganda sobre mudança climática é associada a políticas que querem nos impor. Eles nos levarão à pobreza energética, que é uma maneira de nos controlarem. Vejo uma agenda socialista na raiz disso.” O discurso é semelhante ao disseminado na CPAC: críticas à imprensa, a partidos de esquerda e o argumento de que não há uma agenda por trás da sua plataforma. Os aplausos à jovem foram tímidos.

Naomi começou um canal no YouTube em maio de 2019. Suas postagens não são apenas sobre clima, mas também sobre críticas ao feminismo e a políticas de imigração. No primeiro vídeo com legendas em inglês, ela nega que haja menos mulheres na política.

Naomi Seibt diz não ser negacionista das mudanças climáticas, mas não acredita que as emissões de CO2 do ser humano têm impacto no clima. Foto: Photo for The Washington Post by Sebastien Van Malleghem

Sua estreia nos EUA foi patrocinada pelo Heartland Institute. A ligação de Naomi com os americanos começou em novembro, quando ela fez um discurso no Eike, centro de estudos de Munique, ligado ao partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Ali, conheceu um dos diretores do Heartland.

Há 15 dias, o instituto anunciou que contratou Naomi para integrar o centro de políticas ambientais. “Seibt trabalhará comunicando o realismo climático para a geração dela. Ao contrário da jovem comunicadora climática favorita da mídia global, Greta Thunberg, Naomi Seibt não quer que você entre em pânico”, diz o comunicado do instituto.

Em um vídeo, Naomi critica a “mídia tradicional” - mesma expressão usada por Steve Bannon e pelo movimento de direita conservador nos EUA - por sugerir que ela está sendo usada pelo instituto para ser a “Anti-Greta”. Em tom emocional, ela diz que sua intenção não é ser famosa e nem ganhar dinheiro, mas não nega e nem esclarece o vínculo com a instituição.

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“Eu tenho boas notícias para você. O mundo não está acabando por causa da mudança climática. Na verdade, daqui a 12 anos, estaremos por aqui tirando fotos no nosso iPhone 18S”, afirma a jovem em um dos vídeos divulgados pelo instituto.

Ao jornal Washington Post, o diretor de pesquisas digitais do Atlantic Council, Graham Brookie, disse que a campanha de Naomi tenta distorcer fatos e distrair o público. “A tática tenta criar uma equivalência de mensagens. Nesse caso, é uma equivalência falsa entre uma mensagem baseada na ciência climática, que viralizou organicamente, e uma mensagem baseada no ceticismo climático, tentando recuperar o atraso usando a promoção paga”, afirmou o especialista.

O Heartland Institute afirma que 5,5 mil doadores financiam suas atividades. As doações são anônimas. Recentemente, o New York Times revelou que uma das doadoras é a fundação da família de Rebekah Mercer, que contribuiu para a campanha do presidente Donald Trump em 2016. A informação de que ela doou cerca de US$ 8 milhões a organizações que negam o consenso científico em torno das mudanças climáticas culminou com seu afastamento do conselho do Museu de História Natural de Nova York.

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