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Apelo de Trump por união esbarra em planos para reformar lei de imigração

Presidente americano tentou moderar sua retórica para conseguir apoio democrata e avançar sua agenda legislativa, mas parte da oposição se sentiu ofendida com discurso feito na noite de terça-feira no Congresso dos EUA

Por Cláudia Trevisan ,  CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

O presidente Donald Trump usou 13 vezes a palavra “juntos” no discurso que fez na terça-feira, dia 30, ao Congresso, mas boicotou seu apelo à unidade ao equiparar imigrantes a criminosos e dar declarações que aprofundam divisões da sociedade americana, uma das quais elogiada pelo defensor da supremacia branca e ex-líder da Ku Klux Klan David Duke.

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A oposição democrata reagiu com fúria, e algumas vaias, e afirmou que as posições de Trump tornaram mais difícil um acordo para solucionar a situação dos “dreamers” (sonhadores), como são chamados os jovens imigrantes levados aos EUA por seus pais quando eram crianças. 

Durante discurso sobre Estado da União, Trump anuncia que manterá Guantánamo aberta. Foto: Doug Mills/The New York Times

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“Americanos são sonhadores também”, disse o presidente em seu primeiro discurso sobre o Estado da União. Elogiada por Duke, a frase foi interpretada por críticos como uma visão excludente do que é ser americano, que contrapõe os cidadãos a imigrantes. “É uma linguagem em código bastante divisora sobre o que significa ser americano”, disse Andrew Rudalevidge, especialista em história presidencial da Faculdade Bowdoin.

Apesar dos apelos à unidade, a maior parte do discurso de Trump foi dirigida à sua base. O presidente usou um tom patriótico para falar de família, fé, Forças Armadas, polícia e bandeira. Nesse ponto, mergulhou na questão racial, que também divide a sociedade americana, ao criticar de maneira indireta jogadores da NFL (Liga Nacional de Futebol Americano) que se ajoelham na execução do hino nacional em protesto contra a violência policial dirigida a afro-americanos.

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Um do convidados de Trump para pronunciamento era Preston Sharp, um menino de 12 anos que coloca bandeiras em túmulos de veteranos de guerra. “A reverência de Preston diante daqueles que serviram nossa nação nos recorda por que nós saudamos a bandeira, por que nós colocamos nossas mãos em nossos corações no juramento à bandeira e por que nós nos levantamos com orgulho para o hino nacional.”

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Democratas assistiram o discurso sem nenhuma manifestação de entusiasmo. Enquanto republicanos se levantaram repetidas vezes para aplaudir o presidente, eles permaneceram sentados e bateram palmas raras vezes.

Para a oposição, a retórica e as exigências de Trump dificultaram as negociações da reforma migratória. “Ele está assentando pilares que não o levarão a um acordo com democratas”, disse o senador Cory Brooker.

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Trump deixou claro que cobrará um preço alto pela oferta de conceder cidadania a 1,8 milhão de “dreamers”. O presidente exigiu recursos para a construção de um muro e reforço da segurança na fronteira com o México e propôs restrições à entrada legal de imigrantes nos EUA, que reduziriam em 44% o número dos que ganham permissão para viver no país. 

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Aaron Kall, da Universidade de Michigan, considera improvável a aprovação de qualquer reforma ampla antes das eleições legislativas de novembro, e não apenas pela resistência de democratas. Republicanos conservadores não aceitam a concessão de cidadania aos “dreamers”, sob o argumento de que ela é uma anistia a pessoas que desrespeitaram a lei.

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“Não há nenhuma chance de acordo. Pode sair algo limitado, que prorrogue a proteção dos ‘dreamers’ contra a deportação”, avaliou Kall. Em sua opinião, uma reforma ampla poderia passar no Senado, mas não avançaria na Câmara dos Deputados, onde a influência da extrema-direita republicana é maior.

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Em mais um gesto que azedou a relação com os democratas, Trump reverteu a política de seu antecessor, Barack Obama, e anunciou que manterá aberta a prisão na Baía de Guantánamo. David Schanzer, diretor do Triangle Center sobre Terrorismo e Segurança Doméstica da Universidade de Duke, acredita que a decisão tem um caráter mais simbólico e político do que efetivo. “É uma maneira de parecer duro no combate ao terrorismo.”

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