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Apicultores de Eubeia perdem tudo nos incêndios que atingem a Grécia

Segundo o presidente de uma cooperativa, 40% da produção de mel do país se concentra na região

Por Alexandros Kottis/AFP
Atualização:

“Perdemos nossas colmeias porque estávamos correndo para salvar nossas aldeias”, lamenta Adonis Vakos, com seu boné empoleirado na cabeça, diante das florestas carbonizadas na ilha grega de Eubeia.

“Veja, não há mais nada verde ao nosso redor, e uma abelha não pode viver sem verde”, continua o apicultor. 

O apicultor Vakos Antonis verifica suas colmeias perto da vila de Voutas, na Grécia. Foto: ANGELOS TZORTZINIS / AFP

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Nesta sexta-feira, 13, os incêndios que arrasaram mais de 100.000 hectares na Grécia desde o final de julho foram controlados, segundo um porta-voz do Corpo de Bombeiros disse à AFP.

“Desde ontem (quinta), não há grandes frentes ativas, apenas focos dispersos”, afirmou, atribuindo a melhora às recentes chuvas e à redução das temperaturas.

No chão escurecido, círculos desenhados nos lembram que dezenas de colmeias estavam alinhadas entre os pinheiros agora extintos.

Logo fora da aldeia de Voutas, a exuberante floresta explodiu no incêndio que devorou o norte de Eubeia durante nove dias.

“Das 130 colmeias que eu tinha, restam-me 50”, diz Vakos, 49 anos, o último representante de uma família de apicultores.

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Centenas de casas e pequenos negócios foram reduzidos a cinzas em Eubeia, situada 200 km ao norte de Atenas, em uma parte do Peloponeso e nos arredores de Atenas.

“Estou na produção de mel desde os meus dez anos de idade. Nunca teremos tempo de ver a floresta novamente, estaremos mortos antes que ela volte a crescer”, lamenta o apicultor.

Pinheiros, nogueiras e figueiras adornavam as montanhas do norte de Eubeia: “Todos aqui trabalham com a natureza. É um modo de vida que perdemos ao mesmo tempo que a floresta”, diz Babis, 53 anos.

Árvores ficam carbonizadas apósincêndio florestal perto da vila de Pefki, na ilha de Eubeia, na Grécia. 

“Cada estação tem seus tesouros”, diz este outro apicultor, que costumava ganhar a vida com suas colmeias. “O que vamos encontrar aqui no próximo ano? Acabou. Passamos do paraíso para o inferno”, acrescenta ele. 

'Do que as abelhas vão se alimentar, do carvão?' 

Em um smartphone, os dois homens mostram uma natureza exuberante em fotos tiradas ao longo dos últimos meses.

“Memórias para a vida”, diz Vakos. O medo do vazio substituiu o medo das chamas para os apicultores da região.

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Desde os incêndios virulentos, todos os agricultores, incubadoras e produtores temem as consequências econômicas e os riscos de enchentes.

“Sem dúvida, também teremos que migrar e colocar nossas colmeias em outras áreas”, diz Vakos. 

Para seu parceiro Adonis Angelou, a decisão já está tomada: “Levarei minhas colmeias para Pelion”, uma península montanhosa ao norte de Eubeia.

“Aluguei um pedaço de terra perto de Volos. Isso significa novas despesas, mas não tenho outra escolha”, diz o apicultor, que conseguiu salvar suas 150 colmeias escavando um perímetro de segurança contra as chamas com a ajuda de um trator.

“Felizmente, eu as salvei. Mas do que as abelhas vão se alimentar aqui, carvão?”, questiona. 

Até agora, a Eubeia do norte tem sido uma das áreas mais populares na Grécia para os apicultores. Seu microclima, sua biodiversidade, suas florestas de pinheiros acariciadas pelo vento no Mar Egeu ofereciam condições ideais para a produção de mel excepcional.

40% da produção de mel

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“Neste período até o início de novembro, milhares de apicultores de Kalamata (sul) a Evros (norte) vêm até nós, pois a produção é enorme e o mel é de alta qualidade", diz Panagiotis Gianakaras, um apicultor de Istiea.

Colmeias queimadas causam desespero aos apicultores da ilha de Eubeia, região que concentra 40% da produção de mel na Grécia. Foto: REUTERS/Alkis Konstantinidis

Gianakaras também foi capaz de proteger suas 80 colmeias. As caixas de madeira coloridas que abrigam suas milhares de abelhas descansam agora sob a sombra dos olivais.

“Quarenta por cento da produção de mel do país ocorre aqui”, diz Stathis Albanis, presidente da cooperativa de apicultores de Istiea.

“Estamos falando de florestas de grande importância ecológica e econômica. Muitos habitantes dependem delas”, disse Dimitris Karavellas, diretor geral da WWF Grécia, à AFP.

“A crise climática é uma dura realidade e nos mostra que as florestas são cada vez mais vulneráveis e cada vez mais valiosas para o que elas proporcionam”, diz.

E completa: “A crise climática não é uma desculpa para o fracasso, mas deve ser um alerta para a mudança”, diz Karavellas.

Para Alexandra Messare, gerente de programa do Greenpeace na Grécia, as autoridades arcam com parte da responsabilidade. O governo, como o anterior, não investiu na defesa da biodiversidade e das pessoas que dela dependem", diz ela.

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Bombeiros em alerta

Posicionadas em centenas de locais críticos, equipes de bombeiros permanecem em alerta para o risco de ressurgimento de incêndios em Eubeia, o lugar mais castigado pelas chamas, e na região de Arcádia, no Peloponeso.

Ventos fortes são esperados durante o fim de semana, o que pode fazer as chamas se propagarem rapidamente.

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, disse que esta é uma catástrofe ambiental sem precedentes, a qual atribui diretamente à mudança climática.

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