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Apoiado até por quem odeia Cristina Kirchner, Fernández é favorito contra Macri na Argentina

Pesquisas apontam vitória no primeiro turno do opositor peronista sobre um presidente extremamente desgastado pela crise econômica

Por Rodrigo Cavalheiro
Atualização:

BUENOS AIRES -  Os intermináveis discursos populistas de Cristina Kirchner ou a inflação mensal de 5% de Mauricio Macri. A expansão no gasto público promovida por ela ou aumento da pobreza registrado sob o governo dele.

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Em uma campanha em que argentinos não identificados com nenhum dos lados se viram levados a escolher o legado menos negativo, o advogado Alberto Fernández parece ter convencido até a parcela que rejeita Cristina a colocá-lo na presidência.

Sem nunca ter sido eleito para um cargo no Executivo, mas também sem histórico de submissão, Fernández foi escolhido em maio por Cristina para encabeçar a chapa presidencial peronista. Ele havia sido chefe de gabinete de Néstor Kirchner e da própria Cristina, com quem se desentendeu em 2008.

Em agosto, nas primárias que servem como simulado da eleição, o professor universitário de 60 anos surpreendeu ao abrir 16 pontos de vantagem sobre Macri. Uma diferença suficiente para vencer no primeiro turno. Na Argentina, ganha que obtiver 45% dos votos ou mais de 40% com 10 pontos de vantagem sobre o segundo colocado.

Alberto Fernández (D) e Cristina Kirchner fazem campanha em Mar del Plata Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EFE

Levando-se em conta que Cristina historicamente tem o apoio fiel de cerca de 30% eleitorado, o fato de Fernández ter obtido 47% nas primárias indica uma parcela expressiva de votos que vão além da figura dela. Pesquisas recentes sugerem até uma ampliação da vantagem de 16 pontos sobre Macri.

Predomina entre os analistas, mesmo entre os mais críticos ao kirchnerismo, a opinião de que Fernández exercerá o poder se vencer. “Será um governo em que ele comandará, pois o presidencialismo é muito forte na Argentina. Mas o segredo dessa chapa é ter conseguido reagrupar o peronismo. Os governadores terão um papel fundamental, e Cristina também terá o seu”, avalia o analista político Sergio Berensztein.

Fator regional foi crucial em aliança

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Os governadores têm forte influência sobre o voto dos senadores argentinos, o que em geral é usado para aprovar projetos em troca de liberação de recursos.

Para Berensztein, o cálculo político de Cristina levou em conta também o resultado de eleições regionais em que ela apoiou candidatos radicais e perdeu, casos das províncias de Neuquén e Mendoza.

“Ela viu que essa estratégia não daria certo. Não escolheu Alberto apesar de ele ter um estilo diferente do dela. O escolheu justamente por ser diferente, apresentar-se como moderado.” 

Acuada por denúncias de corrupção desde que deixou a presidência, Cristina tratou de manter uma vaga no Senado. O posto lhe dá imunidade parlamentar. Pesquisa das consultoras D’Alessio e Berensztein diz que 7 em cada 10 peronistas acreditam que Fernández mandará caso vença. Entre os macristas, a proporção é oposta. 

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Ódio a Cristina, voto em Fernández

“Esta é a eleição do menos pior, Alberto Fernández. Cristina roubou muito dinheiro e grande parte não votaria nela. Mas com Macri, agora, colamos uma foto de churrasco na parede e comemos polenta imaginando que estamos mastigando carne”, desabafa o vendedor ambulante Román López, de 60 anos. Demonstrando certa raiva, ele afirma que o pior legado de Cristina no poder, entre 2008 e 2015, foi a concessão indiscriminada de benefícios sociais que fizeram o argentino “perder a cultura do trabalho”. 

Seja por estratégia ou contingência familiar, Cristina manteve-se discreta durante a campanha, considerando-se seu padrão expansivo de comportamento. Sua filha Florencia passa por tratamento em Cuba, o que fez a ex-presidente viajar cinco vezes este ano à ilha. 

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Sem correr riscos, Fernández comandou a campanha, cuja estratégia foi culpar Macri por indicadores como o desemprego de 10,6% e a pobreza de 35,4%. “Ele tentou não fazer nada que prejudicasse sua imagem”, diz a analista política Mariel Fornoni. Macri dedicou-se a percorrer o país e reuniu multidões em 30 cidades entoando seu lema “Sí, se puede”, que será colocado à prova hoje.

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