17 de maio de 2015 | 02h04
Em resposta às crescentes críticas de que milícias muçulmanas xiitas vêm cometendo crimes contra muçulmanos sunitas na Província de Anbar, o primeiro-ministro iraquiano, Haider Abadi, autorizou o treinamento e o fornecimento de armas também às milícias sunitas para lutar contra o Estado Islâmico (EI).
A primeira turma de sunitas começa a treinar nesta semana. Analistas, especialistas em segurança e autoridades de governo manifestaram preocupação, considerando que o programa é muito modesto e mal coordenado para causar algum impacto.
Outros especialistas temem que a ideia de armar os sunitas provoque hostilidade por parte de milícias xiitas aliadas de Abadi, que já se queixaram da cooperação do governo com a coalizão liderada pelos americanos.
Autoridades do governo prometeram que pelo menos 6 mil membros tribais sunitas serão treinados, mas, na terça-feira, menos de mil candidatos se apresentaram na base de Habbaniyah, área controlada pelo governo, a leste de Anbar.
Um membro militar da coalizão ocidental, encarregado do treinamento, disse que um número muito menor deve concluir o programa. "Esses programas costumam ter uma taxa abandono de 40% a 50%", afirmou. "Isto significa mil pessoas vindas de tribos moderadamente favoráveis ao governo - e vamos ser honestos, todas as tribos sunitas odeiam o governo. Esse é um número irrisório que deverá diminuir ainda mais."
Para Aymenn al-Tamimi, analista do Iraque do Middle East Forum, órgão com sede na Filadélfia, o número de inscritos ainda é muito pequeno para fazer a diferença. "É necessário muito mais trabalho", afirmou.
A ideia de armar os antigos rivais do governo xiita em Anbar - região dominada pelo Estado Islâmico e por tribos antigoverno desde janeiro de 2014 - também não é aceita pelas milícias xiitas que entraram no combate no ano passado, depois de o EI invadir grande parte do norte e do centro do Iraque, enquanto o Exército se desintegrava.
Formadas a partir da reunião de grupos militantes apoiados pelo Irã contrários à ocupação americana, em 2003 e 2010, as milícias, melhor equipadas e mais numerosas do que o Exército iraquiano, foram cruciais para a proteção de áreas-chave contra o Estado Islâmico. No entanto, sua lealdade manifestada publicamente ao Irã desencadeou uma luta de poder com o governo.
"Abadi nos deteve", afirmou o porta-voz de uma das maiores milícias xiitas, a Organização Badr, afirmando que as milícias estão prontas para libertar Anbar. "Fornecer treinamento e armas para tribos sunitas, muitas delas apoiando o Estado Islâmico, é uma medida perigosa". O porta-voz da Organização Badr culpou os EUA por pressionar Abadi a tomar a decisão de armar as tribos sunitas. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.