PUBLICIDADE

Apoio a Piñera cai para 14%, o pior desde a redemocratização

Alvo de protestos que na sexta-feira chegaram a 1,2 milhão de pessoas, Piñera anunciou o fim do estado de sítio em todo o país; concerto "Pelo direito de viver em paz" reúne milhares de chilenos neste domingo, 27, em Santiago

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

SANTIAGO - O apoio ao presidente do Chile, Sebastián Piñera, despencou para 14% em meio aos recentes protestos no país, de acordo com um pesquisa publicada neste domingo, 27. É a menor aprovação de um presidente chileno desde a volta da democracia no país três décadas atrás. 

A pesquisa, publicada no diário local La tercera, foi conduzida pelo instituto de pesquisa chileno Cadem entre quarta-feira, 23,  e quinta-feira, 24. O período é anterior ao comício que, na última sexta-feira, 25, assistiu a um milhão de chilenos, quase um quinto da população da capital Santiago, que foram às ruas para exigir reformas no modelo social e econômico do Chile.

O presidente chileno, Sebastián Piñera. Foto: Pedro López/AFP

PUBLICIDADE

O diário La Tercera classificou os 14% de aprovação de Piñera de “mínimo histórico” e o menor desde o período da ditadura militar (1973 e 1990) comandada pelo ditador Augusto Pinochet. Mais de três quartos dos chilenos desaprovam a administração de centro-direita de Piñera, revelou a pesquisa.

O Chile, o maior produtor de cobre do mundo, chegou a ser uma das economias de livre mercado mais prósperas e estáveis da região. No entanto, uma arriagada desigualdade social e o crescente custo de vida fizeram aumentar os maciços e às vezes violentos protestos de rua na semana passada. 

Cenas semelhantes vêm ocorrendo em cidades de todo o mundo nos últimos meses, como Hong Kong, Beirute e Barcelona, que em comum trazem a indignação da população com as elites dominantes.

No Chile, uma alta nas tarifas de metrôs há mais de uma semanas tornou-se o ponto de ruptura. Pequenos protesto rapidamente se espelharam em tumultos que resultaram na morte de pelo menos 19 pessoas e na prisão de mais de 7 mil pessoas, causando um prejuízo de mais de US$ 1,4 bilhão em danos para empresas chilenas.

Piñera, um rico empresário, na semana passada conclamou um novo “pacto social” para conter a agitação. Ele prometeu impostos mais altos ao mais ricos para ajudar a aumentar o salário mínimo e as pensões, diminuir os preços dos medicamentos e garantir um adequado plano de saúde. 

Publicidade

A pesquisa descobriu que 80% dos chilenos não consideram as reformas suficientes. Roberto Izikson, pesquisador e cientista político da Cadem, afirmou à Reuters que os índices de Piñera já estavam em aceleração de queda antes do início dos protestos. “Vamos ver como o governo dará as novas cartas que espera para enfrentar esse novo cenário”, disse Izikson.

Piñera, de centro-direita, venceu a oposição de esquerda nas eleições de 2017. Os comícios em massa, no entanto, pressionam para que Piñera altere o tom e suas metas políticas. No sábado, o presidente prometeu uma grande reforma em seu gabinete e pediu que todos os seus ministros colocassem seus cargos à disposição, embora ainda não tenha anunciado os detalhes da mudança.

Neste domingo, conta oficial da Presidência da República no Twitter anunciou que Piñera encerrerá o estado de sítio em todas as regiões do país a partir da meia-noite deste domingo.

Manifestantes ampliam suas demandas

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

O presidente Sebastián Piñera amanheceu neste domingo, 27, sem conseguir conter os numerosos protestos no país, no décimo dia de um surto social que a cada dia expande suas demandas, que vão de mais ciclovias a uma nova Constituição.

O vandalismo nas manifestações diminuíram acentuadamente: de 33 para 16 no último dia, informou o governo neste domingo. Em um parque perto do centro de Santiago, milhares de pessoas se reuniram para participar do protesto-festival “Pelo Direito de Viver em Paz”, que conta com a presença de artistas.   

Mil ciclistas circulavam entre os doze quarteirões que separam o palácio do governo da praça principal da capital chilena, que na última sexta, 25, foi cenário da maior manifestação popular da história do país - com mais de 1,2 milhão de pessoas - enquanto nas periferias aumentam o surgimento de conselhos populares. As “cicletadas” aconteceram em cidades de norte a sul do país.

Publicidade

Milhares de chilenos se reúnem na praça O'Higgings em Santiago, no Chile, em "protesto-festival" contra o governo e a repressão policial Foto: Aberto Valdé/EFE

Outras apresentações musicais eram esperadas nesta tarde. Enquanto isso, a classe política espera uma mudança de gabinete anunciada no dia anterior por Piñera. A gama de demandas sociais varia de aumentos salariais a aumentos de pensões, melhorias na saúde, educação, moradia, pedágio, mais ciclovias e mudanças na Constituição.

Piñera anunciou na última terça-feira, 22, uma série de medidas como descontos no preço da energia elétrica e de medicamentos, aumentos nas pensões dos mais pobres e da renda mínima, além de reduções nos vencimentos de parlamentares, que variam entre US$ 27 mil e US$ 44 mil por mês.  O presidente acrescentou que ainda analisa descontos nos serviços de água e nos pedágios.

Loading...Loading...
Loading...Loading...
Loading...Loading...

O analista político Marcelo Mella disse à Associetade Press que Piñera deve chegar a acordos com a classe política, já que não pode dialogar com os manifestantes, que são “um movimento muito complexo, com o qual não há uma interlocução” e que até o momento não exibe bandeiras de partidos.

A violenta convulsão social que começou no dia 18 de outubro com protestos estudantis contra o aumento das tarifas de metrô levou a protestos não vistos no país nem mesmo durante a violenta ditadura de Augsto Pinochet (1973-1990). Neste sábado, 26, Piñera disse que “se as circunstâncias permitirem” ele encerraria o estado de sítio que afeta boa parte do país. Arica, no extremo norte, foi a primeira cidade em que o estado de exceção foi encerrado. Na tarde deste domingo, o governo anunciou a retirada do estado de sítio em todo o país a partir de meia-noite./REUTERS e AP.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.