Apoio popular foi essencial para guerrilheiros cubanos

Movimento liderado por Che Guevara e irmãos Castro conseguiu comida com ajuda dos camponeses

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Apesar dos esforços dos guerrilheiros liderados por Che Guevara, Fidel e Raúl Castro, a Revolução Cubana não teria sido bem sucedida sem apoio popular, acreditam especialistas. Diante da repressão do governo de Fulgêncio Batista, parte dos cidadãos passou a auxiliar os militantes com donativos e um lugar para dormir. Além disso, é importante lembrar o fato de o exército do ditador ser formado por pessoas muitas vezes sem comprometimento ideológico com Batista.

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Os guerrilheiros cubanos contavam com uma rede de ajuda composta por donas de casa, crianças, motoristas de ônibus e quem mais quisesse colaborar, seja com dinheiro, donativos ou uma cama. “Nesse sentido, o que aconteceu foi um movimento de massa”, explica a autora do livro "Che Guevara: A Economia da Revolução" e associada da London School of Economics and Political Science, Helen Yaffe. A população resolveu ajudar também em razão do descontentamento causado pela forte repressão do governo vigente.

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A guerrilha de Che Guevara e dos irmãos Castro começou com 82 expedicionários a bordo do barco Granma, que saiu do México em novembro de 1956 com destino a Cuba Foto: REUTERS/David Mercado

Os soldados de Batista eram majoritariamente pessoas muito pobres, que entravam no exército porque não tinham outras opções de emprego, explica Helen. Como eles não estavam vinculados ideologicamente ao regime, muitos abandonaram o exército ou se juntaram aos militantes.

“Os guerrilheiros conseguiram vencer o exército regular do ditador Batista graças a uma estratégia militar correta, de um lado, e a desmoralização dos soldados, de outro”, explica o autor do livro "A Teoria Política de Che Guevara" e professor de Filosofia na Universidade Saint Louis, em Madri, Renzo Llorente.

Cerca de 20 mil pessoas foram mortas durante o regime Batista e a violência era tão intensa que se tornou mais seguro ser um guerrilheiro nas montanhas do que na cidade. O apoio popular, portanto, surgiu tanto nos centros urbanos quanto no campo, o principal cenário das operações da guerrilha até a última fase do confronto e onde havia miséria e analfabetismo.

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Luta

A guerrilha de Che Guevara e dos irmãos Castro começou com 82 expedicionários a bordo do barco Granma, que saiu do México em novembro de 1956 com destino a Cuba. Para que o exército rebelde sobrevivesse, entre aqueles que não foram mortos em combate e os novos integrantes, era preciso conseguir comida com os camponeses ou por meio do cultivo. Durante o confronto, os rebeldes andavam continuamente e dormiam onde podiam, conta Llorente.

Entretanto, a guerra de guerrilha não é uma tática militar com grande relevância prática atualmente, já que o cenário mudou. Além disso, Che frisava que essa opção só deveria ser utilizada quando os canais democráticos não estivessem mais abertos. Nesse sentido, a situação em Cuba e na América Latina como um todo, na época, proporcionava as condições para o uso desse meio. “Existia muita repressão, pobreza, exploração e imperialismo”, conta Helen.

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Para Llorente, a imprensa internacional também exerceu um papel importante na Revolução Cubana, principalmente no começo da guerra. Cerca de dois meses depois da chegada dos guerrilheiros a Cuba, o jornalista americano Herbert Matthews, do jornal The New York Times, publicou textos sobre a conversa que teve com Fidel Castro. “Isso serviu para desmentir a versão de Batista de que a guerrilha estava liquidada e, ao contrário, os textos mostravam que o movimento estava imparável, o que agora sabemos que estava certo."

Entretanto, para o coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense, Adriano de Freixo, a imprensa internacional, principalmente a americana, só se mostrou simpática aos guerrilheiros porque, a princípio, o movimento não tinha uma orientação socialista, apenas nacionalista e anti-imperialista.

Com o tempo, as medidas reformistas e nacionalizantes propostas pelos revolucionários resultaram em confronto com os EUA e mudaram a opinião da imprensa liberal. “A princípio, nem mesmo o governo do então presidente dos EUA, Dwight Eisenhower, via com preocupação a ação dos guerrilheiros, já que a questão socialista não estava colocada e a América Latina não era prioridade na política externa americana”, explica Freixo.

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