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Após 4 anos de ocupação, governo é fraco e violência cresce

Em 9 de abril de 2003, a estátua de Saddam Hussein foi derrubada em Bagdá

Por Agencia Estado
Atualização:

Há quatro anos, a estátua de Saddam Hussein foi abaixo na praça Firdus, em Bagdá. Aquele momento Kodak, fotogênico, porém, não teve o impacto icônico da derrubada do muro de Berlim. A velha ordem caiu como resultado da invasão desfechada pelos americanos. O que subiu no lugar? As conseqüências foram desastrosas, embora não haja um sentimento avassalador de nostalgia pela velha ordem. Saddam morreu e a estátua jamais será reconstruída. Hoje o Iraque é governado de forma precária pela coalizão chefiada pelo primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki e a violência sectária se agravou, em parte devido à incompetente ocupação americana, mas também em razão da ausência de um "homem forte" no poder, como Saddam Hussein. Nos tempos do ex-presidente, a violência era basicamente direcionada contra segmentos da população iraquiana, como xiitas e curdos, e não tinha lugar entre grupos sectários. O terror jihadista hoje é um fato hediondo, ironicamente insuflado pela ocupação americana enquanto há pouco mais de quatro anos fora um dos falsos pretextos para a invasão. Rebeldes democratas Não existe gratidão. Ao contrário do que apregoara o vice-presidente americano Dick Cheney, as tropas americanas não foram recebidas como "libertadoras". Na segunda-feira, inclusive, no quarto aniversário da "libertação" de Bagdá, dezenas de milhares de iraquianos marcharam pelas ruas das duas cidades santas xiitas para exigir a retirada dos "ocupantes" americanos. A conclamação foi feita pelo radical clérigo xiita Muqtada al-Sadr, que mais uma vez provou ser uma figura influente no cenário iraquiano. Dentro dos Estados Unidos existe resistência crescente ao projeto iraquiano do governo Bush. Mesmo assim o presidente foi adiante com a escalada da guerra, enviando mais tropas ao país neste começo de 2007. O presidente se insurgiu contra a vontade dos eleitores americanos (ilustrada pela perda do Congresso pelos republicanos em novembro). Os rebeldes democratas, no entanto, não sabem exatamente o que fazer com o governo rebelde. Na Câmara e no Senado, os democratas aprovaram resoluções para a retirada das tropas americanas do Iraque em 2008, mas é um jogo de cartas marcadas porque elas serão fulminadas pelo veto presidencial. Ademais, o partido está dividido sobre propostas radicais, como cortes de fundos militares. Desde a escalada militar americana no Iraque, o número de mortes não baixou de forma significativa - em grande parte devido a atentados suicidas. É verdade que partes de Bagdá estão mais calmas, mas a capital está distante da meta de se tornar uma ilha de estabilidade. O governo Bush pede paciência. A resposta é ambivalência. Pesquisas tanto nos EUA como no Iraque mostram um dado interessante. Entre os americanos, uma vasta maioria quer a retirada das tropas do país do Iraque, mas apenas a minoria deseja que isto aconteça de forma imediata. O mesmo ocorre dentro do Iraque. Desolador O cenário é simplesmente desolador. Existe o fato inquestionável de que os americanos fracassaram no seu projeto. Ele malograram nas tarefas de segurança e de reconstrução. Bush hoje é prisioneiro de um argumento razoável. As coisas vão mal, mas uma retirada americana será devastadora. Uma guerra civil que ainda é de baixa intensidade provavelmente irá se converter em um conflito escancarado. Noah Feldman, um professor da New York University que teve papel de assessor no começo da ocupação americana em 2003, tem o seguinte raciocínio em razão do quadro de ambivalência: apesar de clamores dentro do Iraque e da resistência popular nos EUA, as tropas americanas ficarão por tempo indefinido no cenário iraquiano. Mesmo os democratas ressalvam que é preciso manter forças no Iraque com o objetivo de combater extremistas jihadistas de organizações como Al-Qaeda na Mesopotâmia. Feldman argumenta que a despeito de toda a conversa sobre retirada talvez não haja uma redução significativa do nível de tropas americanas no Iraque mesmo com a eleição de um presidente democrata em 2008. Para Feldman, no final das contas, o Iraque será mesmo uma frente decisiva na chamada guerra contra o terror. Bush arrastou os americanos e o resto do mundo para a armadilha. É argumento para reflexão. De resto, parabéns pelo quarto aniversário da ausência daquela estátua na praça Firdus. include $_SERVER["DOCUMENT_ROOT"]."/ext/selos/bbc.inc"; ?>

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