Impressão de armas 3D sofre revés nos EUA com decisão de juiz e mudança de ideia de Trump

Juiz federal concedeu liminar proibindo distribuição online de desenhos técnicos de armas, e presidente americano diz que 'não parece fazer sentido' permitir que o público tenha acesso a projetos para imprimir armamentos em casa

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Por Redação
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WASHINGTON - Um juiz federal de Seattle concedeu nesta terça-feira, 31, uma liminar nacional impedindo a distribuição online de desenhos técnicos para fabricação caseira de armas de fogo plásticas não rastreáveis por meio de impressões caseiras 3D. A decisão ocorreu no dia em que o presidente Donald Trump, depois de falar com a Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), reviu seu apoio e disse ser contra o fato de os desenhos técnicos ficarem disponíveis na internet.

A pistola Liberator, totalmente criada com impressoras 3D; Trump diz agora que está estudando a liberação do projeto de armas na internet Foto: AFP PHOTO / Robert MacPherson

Assim como a declaração de Trump, pelo Twitter, a decisão do juiz foi dada na véspera da liberação dos manuais para downloads, prevista para esta terça-feira, 1º. Isso havia sido autorizado pelo próprio governo, em junho, ao grupo Defense Distributed. “Estou investigando esse caso de armas de plástico 3D vendidas para o público em geral”, escreveu Trump no Twitter. “Já falei com a NRA, isso não parece fazer muito sentido!” 

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A empresa responsável pelos protótipos se diz pioneira no desenvolvimento dessa tecnologia nos EUA e foi autorizada pelo governo federal a publicar os projetos online, em formatos apropriados para impressoras 3D. 

A decisão do juiz Robert Lasnik, da corte distrital de Seattle, impede a divulgação de qualquer material contendo informações e desenhos técnicos pelo Defense Distributed. O juiz alega que o grupo poderia causar “um dano irreparável”. O juiz afirmou que a decisão provocaria “sérios problemas com a Primeira Emenda”, que precisariam ser resolvidos mais tarde no tribunal, mas que, “no momento, não deveria haver nenhuma publicação de instruções sobre como produzir armas 3D na internet”.

A liminar do juiz atende a um pedido de legisladores democratas e procuradorias de oito Estados e do Distrito de Columbia, que entraram com uma ação conjunta na segunda-feira pedindo a suspensão. Eles argumentaram no processo que essa leva de downloads de projetos de armas representa uma “séria ameaça à segurança nacional” e nunca deveria ter sido autorizada pelo Departamento de Estado. 

No pedido, os autores da ação argumentam que o repositório online de projetos de armas permitirá o acesso sem restrição de qualquer criminoso a elas e literalmente anula a regulação estatal de armas. Mesmo proibido, mais de mil pessoas já haviam feito o download dos arquivos de uma AR-15 entre sexta-feira e domingo, de acordo com autoridades na Pensilvânia. 

“Essas armas disponíveis para download são difíceis de serem detectadas, mesmo com detector de metal, e estarão disponíveis para qualquer pessoa independente de idade, saúde mental ou histórico criminal. Se o governo Trump não nos mantiver seguros, nós iremos”, disse o procurador-geral do Estado de Washington, Bob Ferguson.

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Os modelos de armas disponíveis para download – de plástico, sem número de série e, por isso, não rastreáveis, tornando-as “armas fantasmas” – incluem AR-15, AR-10, uma pistola chamada Liberator e uma Ruger 10/22. A tecnologia pode estabelecer uma era de ‘faça você mesmo” de armas. 

Em uma reportagem no site da revista Wired, escrita em 2015, um repórter conta que gastou US$ 700 para fazer a arma, incluindo o plástico usado na impressão do receptor inferior (que nas armas industriais é onde vai o número de série). O preço de uma impressora 3D varia de US$ 2 mil a US$ 3 mil nos EUA. 

Segundo o site Sportsman’s Guide, que vende produtos de caça nos EUA, o AR-15 mais barato sai por US$ 399,99 e o mais caro, por US$2.272,99. A diferença, além da marca e especificações, está justamente no receptor inferior. No modelo mais barato, ele é feito de polímero (plástico) reforçado com metal. No mais caro, de alumínio. / AFP e WASHINGTON POST

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