
12 de fevereiro de 2020 | 05h00
PLYMOUTH, EUA - Após um decepcionante quarto lugar em Iowa, Joe Biden, que até pouco tempo liderava a disputa democrata, reformulou sua equipe de campanha e mudou de estratégia. Já prevendo um novo fracasso nas primárias de terça-feira, 11, em New Hampshire, ele partiu para a Carolina do Sul, que realiza prévias no dia 29, onde ele conta com apoio da comunidade negra, que forma mais de 60% dos eleitores democratas no Estado.
Biden classificou o resultado de Iowa como “um soco no estômago” e fez alterações em sua equipe de campanha, ampliando o papel da estrategista Anita Dunn, veterana da equipe de Barack Obama, o que sugere a adoção de uma estratégia mais agressiva contra seus rivais dentro do partido. “Isto é uma maratona. E estamos apenas começando”, disse o ex-vice-presidente.
Até o início do ano, a maioria das pesquisas mostrava Biden à frente na disputa entre os democratas – ele matinha até mesmo uma vantagem razoável no confronto direto contra o presidente Donald Trump. Com forte apoio dos eleitores negros, ele já esperava um desempenho ruim em Iowa e New Hampshire, Estados onde quase todos são brancos. Os péssimos resultados, porém, ajudaram a desgastar ainda mais sua imagem.
Em outubro, uma pesquisa da ABC News e do Washington Post chegou a colocá-lo 17 pontos porcentuais à frente de Trump – 56% a 39% das intenções de voto. Então, veio o escândalo da Ucrânia, tema central do processo de impeachment que paralisou o Congresso por quase quatro meses e para o qual Biden foi arrastado pela Casa Branca.
Sabendo da ameaça que representa Biden, um democrata moderado e popular entre a classe operária e os trabalhadores do Meio-Oeste, que deram a vitória a Trump em 2016, o presidente americano teria pressionado o governo da Ucrânia a lançar uma investigação de corrupção envolvendo o nome de Biden e de seu filho Hunter, que trabalhava em uma empresa ucraniana de energia.
Desde então, mesmo negando qualquer esquema irregular, o nome de Biden perdeu força. As próximas prévias estão marcadas para Nevada, no dia 21, um Estado em que 30% da população é de origem hispânica e onde a campanha do ex-vice-presidente não demonstra muito entusiasmo – os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren são muito mais populares entre os latinos.
“Não importa o que aconteça nos próximos dias, vamos seguir em frente”, afirmou Symone Sanders, uma das principais assessoras de Biden. Por isso, o ex-vice-presidente seguiu na terça-feira direto para a Carolina do Sul, onde ele tem mais chances de vitória.
Segundo a pesquisa mais recente, da Zogby Analytics, publicada no início do mês, Biden tem 28% das intenções de voto no Estado, seguido de Sanders, com 20%, Warren, com 11%, e Pete Buttigieg, com 7%.
As primárias da Carolina do Sul também marcam a estreia de Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, um nome moderado que concorre diretamente pelos mesmos eleitores de Biden. Ele anunciou tardiamente sua candidatura e não conseguiu se inscrever a tempo para as primeiras três disputas. Embora seja considerado um rival difícil no confronto direto contra Trump e possa “roubar” votos de Biden, Bloomberg tem apenas 4% das intenções de voto na Carolina do Sul.
O grande momento da temporada de primárias democratas, no entanto, é o dia 3 de março, quando os eleitores de 14 Estados votam na Superterça – incluindo os gigantes Califórnia e Texas. Em boa parte deles, a grande parcela de negros favorece Biden, especialmente no Alabama, Carolina do Norte e Delaware – Estado onde vive Biden.
Em uma única noite, serão alocados 1.357 dos 3.979 delegados – cerca de um terço do total de votos que definirão o candidato na convenção nacional do partido, em Milwaukee, entre os dias 13 e 16 de julho.
Na terça-feira, um grupo de ação política ligado a Biden divulgou um memorando em que alerta para a ameaça de candidatos muito à esquerda do partido, como Sanders e Warren, ou inexperientes, como Pete Buttigieg, ex-prefeito de South Bend, enfrentarem o presidente Trump na eleição de novembro.
“Seria um cenário apocalíptico para os democratas”, disse Larry Rasky, um dos líderes do grupo. “Os democratas não podem chegar à convenção divididos. E a ala do partido ligada a Sanders e Warren já está se preparando para uma guerra contra Bloomberg.” / AP, NYT, WP e REUTERS
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