Após período de silêncio sobre Chávez, irmão anuncia ida de família a Havana

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Por Rodrigo Cavalheiro e CARACAS
Atualização:

Após dois dias de silêncio do governo sobre a saúde do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, seu irmão Adán, governador reeleito no domingo, afirmou que embarcaria ontem para Cuba. O anúncio da viagem foi feito ao jornal governista Correo del Orinoco, segundo o qual o pai e a mãe do presidente também viajariam para Havana. Chávez foi operado há oito dias pela quarta vez em um ano e meio, em razão de um câncer pélvico. O último boletim sobre a saúde do venezuelano foi divulgado no domingo, pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Jorge Arreaza. Em mensagem lida em rede nacional durante a votação nas eleições regionais (mais informações nesta página), Arreaza afirmou que Chávez melhorava progressivamente, convocava todos a votar, "principalmente os patriotas" e "já governava". "O silêncio me parece muito suspeito, principalmente depois da vitória do chavismo na eleição. É estranho que não tenhamos visto um vídeo, ouvido umas palavras, nem sequer um tuíte do presidente, que é tão audiovisual", avalia Marcelino Bisbal, diretor da pós-graduação em comunicação social da Universidade Andrés Bello. "Todo o protagonismo na eleição ficou com o vice-presidente Nicolás Maduro. Além disso, segunda-feira lembrava-se a morte de Simón Bolívar, uma data histórica. Todas essas evidências levam a crer que sua situação de saúde é grave", afirma Bisbal. Desde a operação, houve uma sequência diária de comunicados oficiais, lidos ora por Maduro, vice-presidente nomeado por Chávez como seu sucessor, ora pelo ministro da Comunicação, Ernesto Villegas. A regularidade dos boletins - foram seis entre o dia 11 e domingo -, contrastou com o período de 19 meses em que o governo tratou a doença do presidente como um segredo de Estado. Além da frequência, os detalhes dados também surpreenderam. Na quarta-feira, o governo revelou que Chávez tivera um sangramento inesperado, que precisou ser contido pela equipe médica e afetou os sinais vitais de Chávez - pulso, temperatura e pressão.Na quinta-feira, Maduro disse que o pós operatório seria complexo e pediu aos chavistas que votassem em massa no domingo. A partir de sexta-feira, as informações foram mais otimistas, ressaltando a recuperação da consciência e repetindo o quadro de evolução "lenta e progressiva" do presidente.Na segunda-feira, Maduro chegou a dizer, no início da tarde, após um balanço sobre a eleição, que faria contato com Cuba e o governo daria informações até o final do dia. Isso não ocorreu. Sucessão. Questionado ontem sobre a possibilidade de Chávez não assumir o poder em 10 de janeiro, o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, disse ontem que o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), do qual é vice-presidente, "não estava preocupado com o prazo". "Nossa prioridade é a recuperação total do presidente", disse Cabello.Caso Chávez não apareça na posse, caberá a Cabello convocar uma nova eleição presidencial no prazo de 30 dias. Se Chávez viajar até a Venezuela e assumir o mandato conquistado em outubro, mas não exercê-lo até 2017, será tarefa de Maduro chamar a nova votação - para a qual Chávez o indicou como candidato do governo.O frágil estado de saúde de Chávez, usado pelos governistas na campanha para pedir votos, também tem sido usado pela oposição. O médico José Rafael Marquina tem dado opiniões pessimistas sobre a recuperação presidencial. Ontem, ele diagnosticou, desde Miami, onde vive, "falhas renais" em Chávez. Os governistas acusam críticos ligados à oposição, como o jornalista Nelson Bocaranda, de praticar "necrofilia" por cogitar a morte do líder bolivariano. E respondem aos rumores com informações incoerentes como os últimos boletins do próprio governo. A ex-ministra dos Povos Indígenas, Nicia Maldonado, derrotada na eleição regional no Estado de Amazonas - um dos 3 entre 20 mantidos pela oposição domingo -, garantiu ontem ter visto uma foto de Chávez em pé após a cirurgia.

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