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Após renúncia de Renzi, Itália busca nome técnico para acalmar mercado

Premiê italiano formaliza demissão após tentativa frustrada de mudar Constituição com referendo; enquanto opositor populista pressiona pela antecipação da eleição marcada para 2018

Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

Um dia depois de sua derrota no referendo constitucional, o primeiro-ministro Matteo Renzi entregou nesta segunda-feira sua demissão ao presidente da Itália, Sergio Mattarella. A tendência era que um nome técnico, como o ministro das Finanças, Pier Carlo Padoan, assumisse o poder. O objetivo é acalmar os mercados e conduzir a administração até a eleição de 2018.

 A nova turbulência política na Itália, com potencial para desestabilizar ainda mais a União Europeia, ocorre porque, no domingo, 59,11% dos eleitores disseram “não” nas urnas à reforma constitucional proposta pelo primeiro-ministro. O resultado foi uma vitória de partidos populistas, como o Movimento 5 Estrelas (M5S), da extrema direita, como a Liga Norte, além de grupos sindicalistas e da esquerda radical. 

Matteo Renzi (D) renunciou após derrota em tentativa de mudar Constituição Foto: Ettore Ferrari/ANSA via AP

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Pela manhã, Renzi foi ao encontro de Mattarella em Roma, mas o destino imediato do país não sofreu alterações bruscas. O chefe de Estado pediu ao premiê que fique à frente do governo demissionário pelo menos até o fim da semana, período que será usado para consultas em busca de uma solução para o impasse político. 

Um dos desafios de Mattarella é resistir à pressão da oposição italiana em favor da antecipação das eleições gerais de 2018. “Os italianos devem ser chamados a votar o mais rapidamente possível”, pediu ontem o populista Beppe Grillo, ex-ator cômico e hoje líder do M5S, que defende a realização, na Itália, de um referendo similar ao realizado no Reino Unido sobre a permanência na União Europeia. Grillo quer, ainda, que a legislação eleitoral não seja alterada antes da próxima votação, como deseja o presidente italiano. “O mais rápido, realista e concreto para votar agora é irmos com a lei que já existe”, afirmou Grillo. 

A hipótese mais forte é a escolha de Padoan, ex-economista-chefe da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), visto como uma solução “técnica”. Seria a mesma estratégia de escolha do ex-primeiro-ministro Mario Monti, que governou a Itália por um ano e cinco meses, entre novembro de 2011 e abril de 2013. Ele estabilizou o país em meio a outra turbulência política e à crise da zona do euro. Segundo analistas, o nome de Padoan teria a capacidade de acalmar o setor financeiro.

A perspectiva de que Padoan seja o possível escolhido ajudou ontem a controlar a tensão dos mercados. No início da manhã, as bolsas de valores da Ásia chegaram a abrir em baixa, atingidas pela demissão de Renzi e a consequente preocupação com a Europa. A de Tóquio operou em queda de 0,82% e a de Hong Kong, em baixa de 0,75%. Os mercados europeus, a seguir, abriram em baixa, mas se recuperaram ao longo do dia. 

A explicação de analistas é que os investidores já haviam absorvido o impacto do resultado, o que deveria resultar na demissão de Renzi. Para acalmar os mercados e evitar um contágio da crise política italiana, ministros de Finanças da zona do euro se reuniram em Bruxelas. “Não há nenhum risco sistêmico para o euro”, afirmou o ministro de Finanças da França, Michel Sapin. “O referendo foi um voto contra a mudança na Constituição, mas os italianos ainda são a favor da União Europeia.”

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Na mesma linha, o ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schäuble, negou qualquer “necessidade de discutir uma crise na zona do euro”, mesmo com o risco que pesa sobre o sistema financeiro italiano, pressionado pelo volume de créditos podres.

Chefes de Estado como François Hollande, da França, manifestaram pesar pela demissão de Renzi, enquanto líderes políticos de grandes partidos antissistema, como a extremista de direita Marine Le Pen, da Frente Nacional (FN), felicitaram o povo italiano e tentaram colar o resultado do referendo ao que consideram uma rejeição à União Europeia.

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