Após seis novos casos de coronavírus, Wuhan decide testar os 11 milhões de habitantes

Grupo foi infectado por um idoso de 89 anos que teve febre no dia 17 de março, mas se recuperou em casa sem ser visto por um médico; ele começou a apresentar novamente problemas de saúde no mês passado e recebeu a confirmação de que estava com covid-19

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Por Anna Fifield
Atualização:

As autoridades da cidade chinesa de Wuhan pretendem testar os 11 milhões de habitantes para covid-19 até o fim desta semana, em uma maciça operação que pretende eliminar todos os resquícios do novo coronavírus do epicentro original da pandemia.

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A missão abrangente - anunciada na segunda-feira 11 e financiada pelas prefeituras dos distritos - contrasta com a escassez de kit para testes em outros países, como os Estados Unidos, onde as pessoas se queixam de não conseguirem ser testadas apesar de apresentarem os sintomas da doença.

Ocorre que a abrangência deste esforço enfatiza a preocupação das autoridades a respeito de uma possível recrudescência do coronavírus em Wuhan, onde o vírus apareceu em um mercado no fim do ano passado. O esforço surgiu depois que as autoridades informaram a ocorrência de seis novos casos em dois dias, confundindo os especialistas que trabalhavam com base no fato de que durante 35 dias seguidos não havia sido registrado mais casos.

O novo normal em Wuhan, na China, primeiro epicentro da Covid-19. Cidade saiu oficialmente do confinamento imposto pelas autoridades sanitárias. Foto: REUTERS/Aly Song

“É importante entender que um resultado decisivo não é igual a uma vitória decisiva, e que baixar o grau de resposta à emergência não implica baixar as defesas”, disse Wang Zhonglin, alto funcionário do Partido Comunista de Wuhan, segundo o jornal Changjiang Daily. “Não devemos ser descuidados ou relapsos”, ele afirmou em uma videoconferência convocada para que os funcionários respondessem a um repentino surto de casos na cidade.

As autoridades locais de saúde informaram mais cinco casos de pessoas de um conjunto residencial de Wuhan diagnosticadas com coronavírus no domingo 10, todos eles relacionados a um idoso que recebera a confirmação da doença no dia anterior.

Todas as pessoas moravam no conjunto Sanmin, no distrito de East West Lake, onde o líder chinês Xi Jinping esteve em março durante sua primeira viagem à cidade desde o início do surto. As infecções foram as primeiras constatadas na cidade depois que os seus habitantes saíram de um lockdown rigoroso de 11 semanas, no dia 8 de abril.

Depois que o grupo foi descoberto, todas as 5 mil pessoas do complexo de Sanmin - onde 20 testaram positivo para o coronavírus durante o lockdown - foram obrigadas a se submeter a testes de ácido nucleico a fim de determinar a presença do vírus.

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Mas as autoridades de Wuhan decidiram ir além. A direção do controle e prevenção de epidemias da cidade emitiu um aviso de emergência na segunda-feira ordenando que todas as unidades de administração distritais apresentassem planos para completar os testes com ácido nucleico de todos os moradores de sua jurisdição no prazo de dez dias.

Esta “batalha dos dez dias” se concentrará em todos os grupos vulneráveis, como os idosos e os doentes, e nas comunidades de grande densidade populacional, inclusive aquelas com grande quantidade de migrantes, segundo o aviso.

Até o momento, foram testados mais de um milhão de moradores, de acordo com o site de notícias sobre finanças Yicai, citando um funcionário do centro de comando de resposta epidemiológica de Wuhan que não quis ser identificado, segundo o qual a prefeitura decidiu ampliar o âmbito dos testes a fim de prevenir uma nova onda de surtos.

Retorno da doença

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O grupo de Wuhan foi infectado por um idoso de 89 anos que teve febre no dia 17 de março, mas se recuperou em casa no prazo de dez dias sem ser visto por um médico. Entretanto, ele começou a apresentar novamente problemas de saúde no mês passado, e, na última semana, recebeu a confirmação de que estava com coronavírus. Sua mulher e mais dois casais de idosos do complexo também testaram positivo.

Houve outros casos que se prolongaram semelhantes ao do idoso, segundo Wu Zunyou, chefe da equipe de epidemiologistas do Centro de Prevenção e Controle de Doenças da China. “Na realidade, há mais de um caso como este em Wuhan: o curso da doença pode durar de 30 a 50 dias para alguns pacientes”, disse Wu em uma entrevista à emissora estatal chinesa CCTV. “O vírus poderá levar mais tempo para se manifestar em pacientes com baixa imunidade, que também tendem a apresentar sintomas que vão e vêm”.

À pergunta se será necessário testar toda a população de Wuhan, Wu respondeu que ela pode ser limitada às áreas onde houve contágios e não haverá necessidade de fazê-lo em áreas residenciais onde não foram registrados casos.

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Movimento na Estação Ferroviária Hankou, em Wuhan, na China, depois que as restrições para deixar a cidade foram suspensas. Wuhan foi o epicentro do surto do novo coronavírus e após 76 dias de isolamento o governo encerrou a quarentena. Foto: Reuters 

O caso do grupo de Wuhan coincidiu com diversos casos de transmissão comunitária na província de Jilin, no nordeste do país, causando preocupações com a possibilidade de um novo surto de contágios. Atualmente, a cidade de Shulan na província de Jilin, está em “clima de guerra”, determinada a acabar com o vírus, segundo a prefeitura, que determinou a proibição da circulação em todos os espaços públicos e o uso dos transportes públicos.

No entanto, os especialistas chineses procuraram tranquilizar a população avisando que não se trata de uma nova onda da pandemia. “Não haverá um novo pico, mesmo menor”, afirmou Wu. “A epidemia agora está sob controle depois de mais de três meses de esforços e do acúmulo de considerável experiência tanto no diagnóstico quanto nas notificações. Portanto, não permitiremos que casos esparsos se transformem em surtos maciços”.

Outros concordaram. “Considerando a complexidade da covid-19, que tem um período de incubação difícil de determinar e muitas vezes é assintomático, estes tipos de casos esporádicos são bastante normais”, disse Wang Peiyu, vice-diretor da faculdade de Saúde Pública da Universidade de Pequim, ao tabloide Global Times ligado ao Partido Comunista.

Liu Yang e Lyric Li, do Washington Post em Pequim, contribuíram para a reportagem. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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