Após tensões com Merkel, governo Trump vai retirar 12 mil soldados da Alemanha

Presidente americano anunciou mês passado sua intenção de cortar em cerca de um terço o contingente na Alemanha; Pentágono alega que movimento é estratégico enquanto presidente diz que Berlim não cumpre meta de gastos com Otan

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - As Forças Armadas dos Estados Unidos divulgaram nesta quarta-feira, 29, planos para retirar cerca de 12 mil soldados da Alemanha, em consequência da longa disputa do presidente Donald Trump com o país europeu, mas disseram que quase metade das tropas continuará na Europa devido às tensões com a Rússia.

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Trump anunciou no mês passado, em meio a um período de tensão com a chanceler alemã, Angela Merkel, sua intenção de cortar em cerca de um terço o contingente de 36 mil soldados americanos na Alemanha. Ele acusa o país aliado de não cumprir a meta de gastos em defesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O republicano também considera que Berlim se aproveita de Washington em questões comerciais.

O secretário de Defesa americano, Mark Esper, garantiu que o objetivo era estratégico, particularmente como elemento de dissuasão contra a Rússia - que em 2014 anexou a Crimeia. 

Soldados americanos em Grafenwoehr, Alemanha;paísabriga mais tropas americanas do que qualquer outroeuropeu Foto: Christof Stache/AFP

Do contingente na Alemanha, cerca de 6,4 mil serão mandados para casa, enquanto outros 5,6 mil serão transferidos para outros países da Otan, principalmente Bélgica e Itália, afirmou o secretário. Muitos dos repatriados farão parte de grupos rotativos que retornarão para a Europa no futuro.

Mas apenas alguns minutos após a entrevista coletiva de Esper no Pentágono, Trump afirmou que a retirada se deve à recusa da Alemanha em "pagar mais".

“Não queremos mais ser os otários”, disse Trump a repórteres na Casa Branca, nesta quarta-feira, sobre a decisão. “Estamos reduzindo as forças porque eles não estão pagando suas contas, é muito simples.”

Trump deu a entender que decisão poderia ser revista se a Alemanha deixar de ser "morosa". "Se eles começarem a pagar suas contas, eu poderia repensar, eu pensaria sobre isso", disse. 

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A iniciativa, estimada em vários bilhões de dólares, reduziria as forças americanas na Alemanha a cerca de 24 mil soldados, disse Esper. 

O Comando Militar dos Estados Unidos na Europa (Eucom), atualmente sediado em Stuttgart, mudará para Mons, na Bélgica, onde está localizado o comando da Otan, poupando as transferências do general americano que tradicionalmente lidera os dois comandos. 

Segundo Esper, um esquadrão de caças F-16 com base na Alemanha será enviado para a Itália, mais perto do Mar Negro, para proteger o flanco sudeste da Otan.

Mudança estratégica importante

O Comando Militar dos Estados Unidos para a África (Africom), em Stuttgart, também pode se mudar, mas ainda não foi tomada uma decisão, disse o chefe do Pentágono. 

Os 2,5 mil soldados da Força Aérea dos EUA que se encontram na base de Mildenhall, no Reino Unido, e seriam reposicionados na Alemanha, permanecerão em solo britânico.

Washington também avalia a transferência de forças para a Polônia e os países bálticos, se Varsóvia cumprir um acordo já preparado pelos dois lados. 

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Esper disse que os primeiros movimentos podem começar em "algumas semanas", mas não se espera uma retirada imediata.

O número dois do Estado-Maior Conjunto dos EUA, o general John Hyten, enfatizou que a iniciativa era, no momento, apenas um "conceito". "Agora temos de fazer um plano", disse. 

"O reposicionamento de nossas forças na Europa representa uma mudança estratégica importante e positiva", disse o chefe do Pentágono.

"Essas mudanças vão permitir alcançar os princípios centrais para elevar o nível de dissuasão dos EUA e da Otan contra a Rússia, fortalecer a Otan, tranquilizar os aliados e melhorar a flexibilidade estratégica dos EUA", completou.

Impacto econômico e estratégico 

Embora o número de tropas tenha diminuído desde o fim da Guerra Fria, a Alemanha abriga mais tropas americanas do que qualquer outro país europeu, um legado da ocupação aliada após a 2ª Guerra.

A medida pode ter um impacto econômico e estratégico significativo no país europeu, onde dezenas de milhares de soldados americanos têm sido destacados desde então.

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Os líderes de quatro Estados regionais alemães escreveram aos legisladores dos EUA pedindo que evitassem reduzir a presença militar ameriana no país./ Reuters, AFP e EFE