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Após visita, ONU estuda estatuto de Kosovo

Albaneses, que representam 90% da população da província sérvia, reivindicam independência como solução para acabar com conflitos étnicos na região

Por Agencia Estado
Atualização:

O chefe da delegação do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador belga Johan Verbeke, declarou neste sábado, 28, em visita ao Kosovo, que a missão cumpriu o objetivo de reunir informações sobre a realidade para decidir sobre o futuro estatuto da província. O chefe da missão da ONU afirmou que o Kosovo possui potencial suficiente para alcançar o objetivo de uma sociedade multiétnica. A missão é prévia ao debate para determinar o futuro estatuto da província. Por iniciativa da Rússia, o Conselho de Segurança enviou uma missão ao Kosovo para verificar a situação política, econômica e social, e em que medida foram cumpridas as normas democráticas exigidas pela Resolução 1.244 da ONU, que estabeleceu o plano de paz de 1999. "Agora podemos analisar a situação em sua totalidade, para poder dar prosseguimento, da melhor forma possível, aos trabalhos em Nova York", disse Verbeke, ao término da visita de dois dias ao Kosovo. Verbeke, que qualificou a missão como "cumprida e bem-sucedida", se negou a tirar conclusões "prematuras" sobre a visita, e afirmou que "todos os parâmetros serão levados em consideração". Segundo o embaixador, a visita "pôs fim à distância entre o conteúdo dos relatórios recebidos em Nova York e a situação real no território". "Na próxima semana, apresentaremos o relatório ao Conselho de Segurança, e depois daremos continuidade ao verdadeiro trabalho", afirmou. Para Verbeke, não é bom limitar prazos para a decisão sobre um assunto tão delicado como o Kosovo. Ele ressaltou, no entanto, que o Conselho de Segurança trabalhará "com eficiência". "É necessário um marco de tempo natural, porque todos os membros do Conselho de Segurança devem decidir. Certamente, não vamos estabelecer prazos, pois isso pode contribuir para o aumento do nervosismo no trabalho. Sabemos que entramos em um período crucial, e devemos agir com calma para poder decidir", disse Verbeke. Independência Além disso, indicou que o Conselho de Segurança debaterá o plano do mediador internacional para o Kosovo, Martti Ahtisaari, como a única proposta que "está sobre a mesa". "Vamos partir disso (plano de Ahtisaari), e veremos para onde o debate nos levará", declarou Verbeke. Ahtisaari, que durante mais de um ano atuou como mediador entre sérvios e albaneses, propôs uma independência sob supervisão internacional para o Kosovo. Os albaneses, que representam 90% da população do Kosovo, reivindicam a independência como a única solução, algo a que a Sérvia se opõe taxativamente, e perante o qual oferece uma ampla autonomia para a província. Antes de concluir a visita, a delegação do Conselho de Segurança visitou Orahovac, no centro do Kosovo, de maioria sérvia. Os habitantes afirmam estar vivendo com medo e como em um gueto, rodeados por albaneses, sem liberdade de passagem nem outros direitos. Os sérvios asseguram que deixarão o Kosovo, caso a província obtenha a independência. Sérvios reunidos na chegada da missão gritavam frases como "Kosovo é a Sérvia" e "Aqui nascemos, aqui queremos morrer". De lá, a missão se deslocou para o sul, para a aldeia albanesa de Mala Krusha, onde, durante a guerra, em 1999, quando começou a campanha de bombardeios da Otan pela crise do Kosovo, as forças sérvias assassinaram mais de cem albaneses em apenas um dia. A missão da ONU também visitou o povoado sérvio de Brestovik, nas proximidades de Pec, antes de retornar à Pristina, de onde seguiram até Viena, para se reunir com Ahtisaari. Antes de visitar o Kosovo, a missão do Conselho de Segurança esteve na quinta-feira em Belgrado, onde dirigentes sérvios se mostraram contrários à independência da província, e denunciaram o descumprimento das normas democráticas na região.

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