Árabes creditam ofensiva como resposta a seu plano

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Por Agencia Estado
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Refugiados palestinos queimaram pneus em protesto e políticos árabes condenaram o ataque de Israel contra o gabinete do líder palestino Yasser Arafat em Ramallah, nesta sexta-feira, qualificando a ação como a resposta do Estado judeu à proposta coletiva de paz aprovada ontem na reunião de cúpula da Liga Árabe. Palestinos protestaram em campos de refugiados situados no Líbano, na Jordânia e na Síria queimando pneus e enfrentando golpes de cassetete, gás lacrimogêneo e canhões d´água disparados pela polícia enquanto gritavam "morte a Israel". O presidente do Egito, Hosni Mubarak, enviou uma mensagem urgente a seu colega norte-americano, George W. Bush, e pediu a imediata intervenção dos Estados Unidos. Outros líderes árabes entraram em contato com funcionários do alto escalão de governos europeus e da Organização das Nações Unidas (ONU) para tentar acabar com os ataques israelenses contra Arafat. Em Washington, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, disse que o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, prometeu a ele que Arafat não será ferido, mas apenas "isolado". Powell fez questão de condenar os recentes atentados de militantes suicidas que deixaram 30 mortos nos últimos dias. Apesar da violência, o enviado especial norte-americano ao Oriente Médio, Anthony Zinni, continuará na região para tentar um cessar-fogo entre as partes em conflito. Nesta sexta-feira, Israel declarou Arafat seu inimigo e enviou tanques e soldados ao complexo da Autoridade Palestina em Ramallah como parte de uma operação militar em larga escala em resposta aos recentes atentados. A ofensiva ocorre também depois de líderes árabes terem se reunido em Beirute e endossado uma iniciativa de paz saudita que oferece a Israel relações normais com todos os Estados árabes em troca da retirada israelense de todos os territórios árabes ocupados em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias. "Horas depois de a iniciativa de paz árabe ter sido aprovada pela cúpula de Beirute, Israel respondeu com uma guerra bárbara e uma agressão flagrante e brutal", enfatizava um comunicado emitido pelo gabinete do presidente do Líbano, Emile Lahoud, que presidiu da cúpula árabe encerrada ontem. O comunicado emitido por Lahoud diz que a ação israelense "confirma mais uma vez que Israel é um Estado terrorista que rejeita a paz". Imagens mostradas pela tevê mostrando os tanques entrando em Ramallah acirraram os ânimos no mundo árabe. Israel insistiu que não planeja ferir Arafat, mas este ataque é o mais próximo que as forças israelenses chegaram do líder palestino em 18 meses de conflito. Rafic Hariri, primeiro-ministro do Líbano, alertou que, "se Ariel Sharon assassinar Yasser Arafat, a violência surgirá por todos os lados". A declaração foi feita durante entrevista à Rádio Oriente, uma emissora particular com sede em Paris. "Temo que Sharon realize seu velho sonho: eliminar Arafat fisicamente." Ele lembrou que, "dias atrás, Sharon declarou-se arrependido de ter-se comprometido com o presidente (dos Estados Unidos, George W.) Bush a não atacar fisicamente Arafat, comentando que tal decisão seria um erro num determinado momento da batalha". Arafat telefonou ao secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa para informá-lo sobre as práticas "provocativas" israelenses, informou um comunicado divulgado pela assessoria de imprensa da Liga Árabe no Cairo. Ainda hoje, logo após os ataques contra o gabinete de Arafat, Moussa telefonou para o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, para o chefe da política externa da União Européia (UE), Javier Solana, e para o secretário-geral da Organização Unidas (ONU), Kofi Annan. Annan disse a Moussa que reunirá imediatamente o Conselho de Segurança da ONU para responder aos últimos desdobramentos, informou a Liga Árabe. Por sua vez, o ministro libanês das Relações Exteriores, Mahmoud Hammoud, classificou a ofensiva como " uma tentativa de assassinato israelense contra a iniciativa de paz árabe". Ahmed Maher, o chanceler egípcio, disse que a ação do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, é "tola, ilegal e uma mesagem de guerra e agressão aos árabes como resposta a uma mensagem de paz". "Sharon declarou guerra, uma guerra que ele não pode vencer porque a vontade das pessoas é mais forte que os tanques israelenses", disse Maher a jornalistas no Aeroporto do Cairo, após abreviar uma visita ao Líbano por causa dos ataques contra o escritório de Arafat. O governo do Catar, atual presidente da Organização da Conferência Islâmica, convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da entidade para discutir a situação. No Iraque, Izzat Ibrahim al-Douri, vice do presidente Saddam Hussein e principal representante do Iraque na reunião de Beirute, disse que as recentes incursões israelenses em Ramallah são "uma reação sionista à unidade árabe na cúpula". Em Damasco, Síria, Khaled Mashaal, um líder do grupo extremista Hamas pediu aos árabes que retaliassem contra os ataques israelenses. "A paz com Israel é uma ilusão", disse ele a milhares de manifestantes nesta sexta-feira. O chanceler sudanês, Mustafa Osman Ismail, disse à rádio estatal que "a anarquia e a barbaridade de Israel" ultrapassaram em gravidade os atos de Adolf Hitler. "Eles são um bando de criminosos que querem destruir e silenciar a voz do povo palestino", concluiu Ismail. Em Atenas, cerca de 1.500 gregos e palestinos protestaram pela rua da cidade pedindo liberdade para a Palestina.

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