Árabes criticam Bush por exigir saída de Arafat

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Por Agencia Estado
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Árabes consideraram que o discurso do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, apresentando sua visão política do Oriente Médio, é um chamado inaceitável à derrubada do líder palestino Yasser Arafat e o acusaram de recuar de sua promessa de oferecer até mesmo um Estado palestino provisório. O discurso foi transmitido ao vivo por uma estação árabe via satélite para a região que há semanas esperava as palavras de Bush sobre como quebrar o ciclo de violência entre palestinos e israelenses. Sem uma forte intervenção dos EUA, acreditam muitos deles, nenhum dos lados aceitará um acordo. "O mundo árabe não irá dormir esta noite", disse Mohamed el-Sayed Said, chefe da sucursal em Washington do diário egípcio Al-Ahram, depois de ouvir o discurso de 20 minutos de Bush nos jardins da Casa Branca. "Ele praticamente exigiu a remoção de Arafat, o símbolo da unidade palestina", avaliou. "Os palestinos elegeram Arafat e eles vão elegê-lo novamente. Se os palestinos reelegerem Arafat, eles vão ser punidos?" Bush, o primeiro presidente americano a endossar um Estado para os palestinos, disse que eles só caminharão na direção de um Estado depois de elegerem líderes "não comprometidos com o terrorismo". Depois de completarem reformas políticas e econômicas, adiantou Bush, os palestinos poderão ter um Estado provisório, e depois um Estado pleno. Bush pediu a Israel para que apoie o processo de estabelecimento de um Estado palestino, suspenda a construção de assentamentos e entregue fundos congelados palestinos - em "mãos honestas, capazes". Mesmo antes do discurso, autoridades da administração Bush levantaram a idéia de um Estado provisório, que foi recebida com ceticismo pelos árabes. Em seu discurso, Bush preferiu apresentar as condições para se chegar a um Estado provisório, ao invés de responder perguntas sobre que poderes e territórios teria tal Estado e como se chegaria a um Estado pleno, disseram observadores. O Estado palestino "é apenas uma promessa temporária, uma ilusão sem fronteiras, sem identidade", considerou Mostafa Bakri, editor-chefe do semanário independente El Osboa. Com seu discurso, Bush "deu carta branca para Sharon se livrar de Arafat". "Países árabes, especialmente Egito e Jordânia, têm um papel maior a desempenhar na implementação dessa iniciativa, incluindo trabalhar para expulsar o líder palestino", afirmou Bakri. Os governos do Egito e da Jordânia, mediadores-chave e vozes de moderação no processo de paz no Oriente Médio, não reagiram imediatamente ao discurso. "Bush anunciou franca e claramente que não vai dar uma chance a Arafat, o que desapontará as esperanças e exigências dos regimes árabes moderados", disse Reda Helal, colunista e membro do Conselho de Relações Exteriores do Egito. Helal viu alguns elementos positivos na fala de Bush, como suas críticas à ocupação israelense de territórios palestinos. Mas o analista político sírio Imad Shueibi não poupou críticas. "Foi o pior discurso na história das relações EUA-árabes", reagiu.

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