Árabes dizem que ataques fortalecem Bin Laden

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Por Agencia Estado
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O suposto terrorista Osama bin Laden está fazendo mais do que ameaçar seu inimigo quando vincula a tranqüilidade nos Estados Unidos à resolução da questão palestina. Ao apontar o dedo e levantar a voz num videotaipe divulgado no domingo, Bin Laden falou diretamente para árabes comuns frustrados por sua incapacidade de ajudar os palestinos em seu novo confronto com Israel e enfurecidos com o que consideram uma política tendenciosa dos EUA a favor do Estado judeu e injusta com os árabes. A declaração de Bin Laden, programada para ser divulgada no momento em que armas de alta tecnologia dos EUA caíam sobre um país muçulmano pobremente armado, tem o potencial de transformá-lo num herói. "Foi um golpe de inteligência", disse o ministro da Informação libanês, Ghazi Aridi. "Existe um incitamento internacional contra uma pessoa, uma aliança internacional contra uma pessoa", acrescentou. "Se ele for morto, se tornará um símbolo. Se ele sobreviver, se tornará um símbolo ainda mais forte." Os ataques anglo-americanos contra o Afeganistão têm revoltado árabes, que dizem que os Estados Unidos punem atos terroristas quando querem e os desconsideram quando cometidos contra árabes. "Os Estados Unidos usam dois pesos e duas medidas", afirmou Samar al-Naji, de 29 anos, uma caixa de banco jordaniana. "Eles atacam muçulmanos enquanto ignoram atos de Israel, o Estado terrorista que está demolindo casas palestinas e matando mulheres e crianças", acusa. "Que vergonha, Estados Unidos, que vergonha, Bush. Ele diz que Bin Laden é diabólico, enquanto que ele é o Satã em pessoa", acrescentou. Apesar da revolta, a reação no Oriente Médio não foi ainda acompanhada da violência vista no Paquistão. Governos árabes emitiram comunicados brandos, e os protestos que ocorreram, como os de estudantes no Egito e no Sudão, foram pacíficos. Os governos árabes temem a ressurgência do tipo de fundamentalismo islâmico que eles combateram e esmagaram. Protestos violentos podem sair de controle, oferecendo aos fundamentalistas uma oportunidade de ouro para reativar bases em todo o mundo árabe. Desde os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos, autoridades árabes têm denunciado Bin Laden e indicado que não permitirão que as massas o elevem à condição de culto. "Bin Laden tem-se revelado um terrorista e um criminoso", disse na semana passada o ministro da Defesa saudita, príncipe Sultão. Ele lembrou à imprensa local que Bin Laden teve retirada sua cidadania saudita. Apesar de tais esforços, a aparição de Bin Laden domingo na televisão sensibilizou muitos árabes. A questão palestina tem sido o conflito que extremistas e militantes muçulmanos têm usado como pretexto para alimentar e propagar o ódio contra os Estados Unidos e Israel. Abdullah al-Khatiri, um jornalista saudita, disse que Bin Laden sabe como atrair e convencer as pessoas de seu ponto de vista. "Muitas pessoas vêem Bin Laden como um herói do qual os muçulmanos podem se orgulhar, porque ele é a pessoa que tem sido capaz de fazer com que os norte-americanos experimentem amargura, terror, ansiedade, morte e destruição", acrescentou. Em seus comentários, Bin Laden lembrou aos árabes que os muçulmanos têm "por mais de 80 anos experimentado humilhação". Isso foi uma referência à Declaração Balfour, de 1917, na qual o primeiro-ministro britânico A. J. Balfour apoiou a idéia de um Estado judeu na Palestina. Isso e o colonialismo europeu que se seguiu plantaram as primeiras sementes de descontentamento contra o Ocidente no Oriente Médio. Imad Fawzi Shueibi, um analista político sírio, disse que, ao se referir à Declaração Balfour, Bin Laden expressou "a humilhação de toda umma, ou nação islâmica?. "É uma umma que tem visto seu orgulho, sua terra, sua religião desprezada e insultada, primeiro pelo colonialismo e depois por uma política tendenciosa norte-americana contra eles", acrescentou. "Os ataques aumentarão a popularidade de Bin Laden se não forem sincronizados com uma solução para o problema no Oriente Médio", acrescentou Shueibi. Aridi, o ministro libanês, disse que as críticas aos Estados Unidos não significam uma defesa de Bin Laden e de sua agenda política. Porém, acrescentou, "há simpatia por Bin Laden, um sentimento de que a política dos Estados Unidos é responsável pelo que aconteceu e pelo que está acontecendo". "A responsabilidade recai sobre os Estados Unidos para remover todas as desculpas usadas por Bin Laden e os outros", acrescentou. Há dez anos, o presidente do Iraque, Saddam Hussein, assim como Bin Laden, recorreu à causa palestina enquanto enfrentava uma coalizão liderada pelos Estados Unidos durante a Guerra do Golfo, em 1991. Para angariar simpatia de árabes contrários aos ataques contra ele, Saddam disparou 39 mísseis contra Israel. Mas, enquanto as ações de Saddam eram vistas como desculpa para a invasão do Kuwait, as intenções de Bin Laden são vistas como tão sinceras quanto suas convicções religiosas. Ele é "uma forte personalidade muçulmana", diz Hadi Abbas, um lojista kuwaitiano de 25 anos. Leia o especial

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