''''Árabes gostaram de ver Israel humilhando a Síria''''

Entrevista com Moshe Maoz: especialista em relações Israel-Síria. Formação de ''''eixo xiita'''' por Síria, Irã e Hezbollah preocupa mundo árabe, segundo analista

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Por Daniela Kresch e JERUSALÉM
Atualização:

Como se explica o silêncio árabe quanto à invasão do espaço aéreo sírio por Israel? Lembremos da guerra no Líbano, no ano passado. Também não houve uma reação drástica do mundo árabe. Não declararam guerra a Israel. Muitos líderes árabes queriam que Israel vencesse o Hezbollah, integrante do chamado ''''eixo do mal xiita'''', representado também por Irã e Síria. O mundo árabe, que é mais de 85% sunita, morre de medo dos xiitas. Qualquer coisa que possa enfraquecê-los, será bem recebida. Nesse caso, o mundo árabe ficou feliz em ver Israel humilhando Bashar Assad (o presidente sírio) com esse ataque. Mas a síria tem maioria sunita. Mesmo assim representa esse ''''eixo xiita''''? A Síria tem realmente maioria sunita, mas tem governo alauíta, que muitos consideram uma facção xiita. Na verdade, a Síria está num dilema há algum tempo. A qual grupo pertencer? Ao tal ''''eixo do mal xiita'''' ou à outra coalizão, mais moderada? Os sírios estão ansiosos para unirem-se a países árabes moderados. A situação econômica do país é crítica. Assad sabe que ele precisa aproximar-se do Ocidente para tirar o país da pobreza. Se isso é verdade, por que a Síria não toma a iniciativa de conversar com o Ocidente? Os sírios querem negociar. Se Israel quiser a paz com os sírios, vai ter de pagar. O preço é devolver as Colinas do Golan (território ocupado na Guerra dos Seis Dias, em 1967). Como Israel não conversa com a Síria, isso fica difícil. Mas George W. Bush bloqueia as tentativas de negociação. E evitando negociar, tanto Israel quanto os EUA empurram o país cada vez mais para esse eixo xiita. Se houvesse uma negociação com Israel e EUA, Assad se afastaria do Irã e do Hezbollah? Nada é 100% certo. Não sei se Assad iria mudar de lado tão facilmente, mas ele sabe que se continuar a apoiar Irã e Hezbollah, acabará envolvido numa guerra, o que ele não quer. Seu Exército é obsoleto. Alinhando-se aos americanos e israelenses, Assad sabe que terá paz e desenvolvimento. O povo sírio quer comida, não slogans. Por que Bush não entende isso? A simplicidade ideológica de Bush é impressionante. Ele pensa de maneira ideológica, não realista. E pensar assim é uma receita para guerra. Qualquer negociação entre Síria e Israel vai ter de esperar até que mude o governo em Washington. E Olmert, por que não negocia? Olmert depende dos EUA e não quer se tornar mais impopular. Segundo pesquisas, 65% dos israelenses são contra devolver o Golã. Há precedentes: Israel devolveu o Sinai aos egípcios, mesmo com 85% do público contra. Mas tínhamos um líder no poder: Menachem Begin. Ele não era a favor de devolver o Sinai, mas foi realista. E o que aconteceu? O público também mudou. Essa é a ação de um líder. Assad tem envolvimento direto nos assassinatos de políticos anti-Síria no Líbano? Não sabemos de quem saiu a ordem final. Todos esses escândalos são muito embaraçosos para Assad. Ele perdeu a influência no Líbano. E o Líbano é muito importante para a Síria, economicamente e em termos estratégicos. Uma das condições de Assad para negociar com o Ocidente é restabelecer algum tipo de influência no Líbano. Com mais um assassinato, no entanto, tudo fica mais complicado.

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