Arafat condena atentados e diz que eleições ocorrerão em janeiro

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Por Agencia Estado
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O presidente da Autoridade Palestina(AP), Yasser Arafat, condenou ataques terroristas e prometeu promover eleições gerais em janeiro de 2003 durante um discurso pronunciado nesta segunda-feira no Parlamento palestino, mas não chegou a definir medidas claras contra atentados ou aceitou partilhar o poder com um primeiro-ministro. Desajeitado com os microfones e afastando-se diversas vezes do discurso previamente preparado, o líder palestino também ofereceu - numa aparente ironia - abandonar seus poderes executivos se isto lhe for solicitado. A sessão do Parlamento realizada no devastado quartel-general da Autoridade Palestina em Ramallah, Cisjordânia, ocorreu num momento que poderá ser chave nos quase dois anos de violência que assolam o Oriente Médio. Os sinais de descongelamento entre os dois lados coincidem com esforços de extremistas palestinos para realizarem ataques sem precedentes. Num discurso conciliatório entremeado de acusações a Israel, Arafat declarou condenar atentados contra civis israelenses. Segundo ele, os ataques desviam a atenção do sofrimento palestino causado pela ocupação israelense. Arafat pediu aos parlamentares que atuem em prol dos interesses nacionais, mas esquivou-se de passagens do discurso que incluiriam um pedido ao Parlamento para que banisse os atentados suicidas. Dirigindo-se aos israelenses, o líder palestino declarou: "Queremos a paz com vocês. Queremos segurança e estabilidade para vocês, para nós e para toda a região. Após 50 anos de luta, eu digo que já basta de combates e derramamento de sangue." Porém, Raanan Gissin, um conselheiro do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, qualificou o discurso como "insignificante" e disse que uma reforma na Autoridade Palestina não funcionará com Arafat no poder. "Paz e reformas só serão possíveis quando Arafat não mais estiver lá", disse Gissin. O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Richard Bourer, disse não ter visto nada de novo no discurso de Arafat. Em Gaza, Ismail Abu Shanab, porta-voz do grupo islâmico Hamas, disse que Arafat não mostrou uma estratégia clara. "Precisamos encontrar uma forma de desafiar a agressão israelense", comentou. O Parlamento palestino reuniu-se esporadicamente - e sempre com pouca adesão - durante os últimos dois anos devido as restrições impostas por Israel ao direito de ir e vir dos palestinos. Nesta segunda-feira, Israel proibiu a viagem de 12 parlamentares da Faixa de Gaza para a Cisjordânia, acusando-os de participarem de atentados contra israelenses. Em solidariedade, outros legisladores de Gaza também não viajaram e participaram do encontro via videoconferência. Na abertura da sessão, foi reeleito o presidente do Parlamento Ahmed Qureia, que ocupa o cargo desde de 1996. Qureia, um importante negociador de acordos de paz anteriores com Israel, é um confidente de Arafat, mas é visto como um potencial sucessor do líder palestino. As manobras de Arafat parecem não ter agradado a ninguém. Diversos parlamentares reclamaram que ele não submeteu os nomes de seu novo gabinete - resultado de uma reforma ministerial realizada em junho - à aprovação do Parlamento. Também ficaram insatisfeitos por ele não ter estabelecido uma data exata para o pleito. Quando Arafat mencionou que as eleições presidenciais, parlamentares e municipais seriam realizadas no início de janeiro de 2003 - como anunciado anteriormente por seus assessores - um deputado gritou: "Precisamos de um decreto presidencial com uma data específica." A confirmação de Arafat para as eleições em janeiro parecem representar um desafio aos Estados Unidos, que querem adiar as eleições até conseguir um acordo com os palestinos para a criação do cargo de primeiro-ministro, que cuidaria do governo, para limitar Arafat a uma posição de figurante. A idéia do primeiro-ministro goza de certo apoio entre os palestinos, cansados da corrupção no governo, e alguns parlamentares condicionaram o apoio ao novo gabinete de Arafat à criação do posto de primeiro-ministro. "Quero ouvi-lo aceitar a indicação de um primeiro-ministro", disse Qadura Fares, um parlamentar do movimento político Fatah, de Arafat. Ele disse esperar que, sem isso, a maioria vote contra o novo gabinete. Num determinado momento, Arafat comentou que as reformas deveriam ter como base a separação dos poderes e acrescentou: "A não ser que vocês queiram colocar outra pessoa como autoridade executiva. Gostaria que vocês o fizessem e me dessem uma folga." Assessores de Arafat comentaram que ele já fez esta oferta outras vezes, em reuniões internas, ironicamente. Numa reunião durante o fim de semana, ele continuou a resistir à pressão para que aceite a divisão do poder com um primeiro-ministro, disseram fontes. O Parlamento deverá reunir-se novamente amanhã, quando as discussões sobre o novo gabinete deverão predominar. Na Faixa de Gaza, soldados israelenses demoliram a casa de um suposto militante no campo de refugiados de Boureij. Durante a operação, cerca de 60 tanques cercaram Boureij e dois campos adjacentes. Os soldados encontraram uma casa supostamente utilizada para fabricar mísseis antitanque e morteiros, motivo alegado pelo Exército para a demolição.

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