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Argentina aprova lei que impede libertação antecipada de repressores

Com 56 votos a favor e nenhum contra senadores deram uma resposta contundente após decisão da Suprema Corte sobre o tema que permitia aos condenados descontar dois anos de prisão por cada ano cumprido da sentença

Atualização:

BUENOS AIRES - O Senado argentino aprovou nesta quarta-feira, 10, por unanimidade uma lei que impede a libertação antecipada de condenados por crimes contra a humanidade, antes de uma marcha de repúdio contra uma decisão da Suprema Corte que revoltou o país.

Com 56 votos a favor e nenhum contra, os senadores de todo o espectro político argentino, da esquerda à direita, deram uma resposta contundente para evitar a libertação de condenados por violação dos direitos humanos, possibilidade deixada em aberto por uma polêmica decisão da Corte há uma semana.

Membros da organização Avós da Praça de Maio seguram faixa e cartazes contra a aplicação do benefício conhecido como '2x1', que reduzia penas de condenados por crimes contra a humanidade Foto: AFP PHOTO / TELAM / José ROMERO

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Durante a madrugada, deputados da oposição e ligados ao governo da Argentina também aprovaram a lei que os constitucionalistas apontavam como o caminho mais rápido para evitar a redução das condenações dos repressores.

O debate foi longo e histórico, reflexo de como é sensível o tema das violações dos direitos humanos durante a última ditadura (1976-83) no país. 

A rápida aprovação da lei por unanimidade "é um sinal muito claro para a sociedade e para os juízes de qual é a posição do povo argentino" com relação aos direitos humanos, disse Federico Pinedo, presidente interino do Senado e homem próximo do presidente Mauricio Macri.

A questionada decisão da Suprema Corte, no qual três dos cinco juízes aprovaram a redução da pena do ex-agente paramilitar Luis Muiña - condenado a 13 anos de prisão -, provocou revolta de advogados, juízes, promotores e congressistas, que pediram o não reconhecimento do texto.

Na terça-feira, os três juízes que votaram a favor da medida foram acusados de prevaricação, depois que muitos consideraram que atuaram de maneira arbitrária e contrária ao que determinam os parâmetros internacionais da questão.

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O presidente Mauricio Macri, acusado pelos detratores de estar por trás da decisão da Corte, quebrou nesta quarta-feira um criticado silêncio. "Sou contra qualquer ferramenta que facilite a impunidade, ainda mais quando é por delitos contra a humanidade", enfatizou.

Manifestante segura placa com mensagem contra a libertação de criminosos da época da ditadura 'nenhum genocida solto' Foto: AP Photo/Natacha Pisarenko

A ex-presidente e opositora Cristina Kirchner alertou que a decisão "permitiria recuperar a liberdade de mais de 700 genocidas condenados por delitos contra a humanidade".

Na Argentina, a decisão da Suprema Corte em um tema particular como o caso Muiña pode ser questionada e não acatada por tribunais de primeira instância. Desde sexta-feira, pelo menos três juízes se negaram a conceder o benefício da redução de pena a repressores condenados que apresentaram os pedidos.

Especialistas calculam que ao menos 250 condenados por crimes contra a humanidade poderiam solicitar a libertação antecipada.

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O projeto de lei tinha apenas três artigos: estabelece que o benefício conhecido como "2x1", que permite ao condenado descontar dois anos de prisão por cada ano cumprido da sentença, "não é aplicável a delitos contra a humanidade, genocídio e crimes de guerra".

O segundo artigo destaca que "será aplicável apenas aos casos nos quais o condenado estava em prisão preventiva durante a vigência da lei", entre 1994 e 2001.

O terceiro, em clara referência à Suprema Corte, afirma que o que está escrito nos dois artigos anteriores é "a interpretação autêntica" do benefício "2x1", que "será aplicável aos casos em trâmite".

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O pedido para a apreciação do tema foi feito por Victoria Donda, neta recuperada graças ao trabalho da organização Avós da Praça de Maio e deputada de centro-esquerda que preside a Comissão de Direitos Humanos.

Victoria pediu "uma contundente e clara mensagem à Justiça de que neste país não vamos renunciar à memória, verdade e justiça" após uma ditadura que deixou 30 mil desaparecidos, segundo organizações de defesa dos direitos humanos. "Não queremos que nenhum genocida caminhe em nossas ruas." / AFP

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