Argentina aprova voto para jovens de 16 a 18 anos

Como no Brasil, voto nesta faixa etária será opcional; críticos veem manobra de Cristina para ter maioria no Congresso

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Por ARIEL PALACIOS , CORRESPONDENTE e BUENOS AIRES
Atualização:

A Câmara dos Deputados da Argentina aprovou no início da madrugada de ontem o projeto de lei que permite que jovens de 16 e 17 anos possam votar em todas as eleições no país. O projeto, que dias atrás havia passado pelo Senado, permitirá que 1,4 milhão de adolescentes votem nas eleições parlamentares do ano que vem, aumentando a proporção de eleitores em 4,8%.A proposta de voto a partir dos 16 - que será optativo - foi apresentada pelos aliados da presidente Cristina Kirchner, cujo governo defende a participação ativa dos adolescentes na política. Assim, a Argentina se junta a Brasil, Nicarágua, Equador, Níger e Áustria, cujas legislações também preveem o voto facultativo para jovens. Até então, somente os argentinos maiores de 18 anos tinham o direito de votar. Militantes kirchneristas celebraram a vitória batendo em bumbos e jogando confete, além de estender sobre três andares do plenário uma gigantesca bandeira com a efígie da presidente Cristina.A lei, aprovada por 131 votos a favor e 2 contra, foi criticada por grande parte da oposição, que acusou o governo de populismo. Alguns parlamentares kirchneristas pretendiam incluir no projeto o direito a ser eleito aos 16 anos. No entanto, a ideia foi deixada de lado pelos próprios correligionários.Segundo o deputado opositor Luis Sacca, da União Cívica Radical (UCR), desde 2003, quando Néstor Kirchner assumiu a presidência, a proporção de jovens que não estudam ou trabalham aumentou em 17%. Analistas políticos afirmam que o voto aos 16 anos não é uma demanda popular, mas sim um interesse da classe política. Segundo uma pesquisa da consultoria Management & Fit, 70% dos entrevistados rejeitam a redução da idade mínima para votar.Reeleição. O deputado e cineasta Fernando Solanas, líder do partido Projeto Sul, de esquerda, acusou o governo Kirchner de fraude pré-eleitoral com a aprovação do voto para os adolescentes. Segundo ele, essa modificação não passa de uma manobra para tentar mudar a Constituição no ano que vem, depois das eleições parlamentares, com o objetivo de permitir reeleições presidenciais indefinidas para favorecer Cristina."Não é oportunismo nem demagogia", defendeu a deputada kirchnerista Diana Conti. Um grupo de 28 senadores da oposição apresentou um documento no qual formalizaram sua rejeição a qualquer plano de reforma constitucional que pretenda estabelecer o sistema de reeleição presidencial indefinida. Ao longo do último ano, um grupo de parlamentares e governadores kirchneristas defenderam o projeto que denominam de "Cristina eterna". A intenção é que Cristina, eleita em 2007 e reeleita em 2011, possa ser novamente reeleita em 2015.

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