PUBLICIDADE

Argentina mantém diálogo com Itamaraty sobre crise, diz Macri

Presidente argentino crê que Brasil ‘vai resolver seus conflitos’e reafirma preocupação com a situação venezuelana

Por Rodrigo Cavalheiro , Correspondente e Buenos Aires
Atualização:

BUENOS AIRES - A cúpula do governo argentino foi questionada ontem sobre o impacto da crise política brasileira na região e ligou seu distanciamento do iminente afastamento da presidente Dilma Roussef a um diálogo permanente com o Itamaraty.

Em uma entrevista a correspondentes estrangeiros na Quinta de Olivos, residência oficial, o presidente argentino, Mauricio Macri, e o chefe de Gabinete, Marcos Peña, mencionaram o contato permanente com a diplomacia brasileira para evitar posicionar-se sobre possível punição em blocos como o Mercosul e a União de Nações Sul-americanas (Unasul) em caso de interrupção do mandato de Dilma via impeachment.

Presidente argentino, Maurício Macri, acredita em solução da crise brasileira, mas vê agravamento da situação de Caracas Foto: REUTERS/Enrique Marcarian

PUBLICIDADE

“O Brasil vai resolver seus conflitos. Espero que possamos levar adiante uma relação com quem estiver no poder. Uma relação para os próximos 20 anos e não só para os próximos anos”, disse Macri. Ele argumentou que embora o governo de Cristina Kirchner tivesse “proximidade política” com Dilma, “não havia entendimento em relação a gestão”. 

Diante da iminência de lidar com um novo governo no Brasil e sobre a relação que teria com o vice Michel Temer, Macri afirmou “não querer se adiantar aos fatos” e disse estar contato frequente com a chancelaria brasileira.

Questionado se o processo de julgamento da presidente no Congesso brasileiro feria a democracia, o que poderia justificar uma suspensão do país do Mercosul e da Unasul, Macri passou a palavra a Peña, seu principal ministro.

“Qualquer um pode expressar sua opinião sobre o que ocorre no Brasil, mas como governo devemos manter distância. Há um processo institucional em marcha e corresponde às instituições brasileiras”, disse Peña. “E tomamos essa decisão não só pelo diálogo com a nossa diplomacia, mas também com o Itamaraty, que, pelo que entendo, considera institucional o processo em curso.” 

Ele concluiu deixando aberta a janela para uma discussão sobre a legitimidade do processo “em outro momento”, no caso de aparecerem novos elementos. Em visita aos EUA, Dilma fez referência a possíveis punições que o País poderia receber dos blocos regionais caso se concretizasse seu afastamento.

Publicidade

A alusão de Macri e de Peña a uma posição cautelosa do Itamaraty reforça o que o embaixador Frederico Meyer, porta-voz do Itamaraty, afirmou há um mês ao Estado. Ele disse então que não houve “ruptura democrática” no Brasil que justificasse uma sanção ao País no Mercosul. Em março, a chanceler argentina, Susana Macorra, afirmou que o Mercosul discutia a convocação de uma reunião de emergência do bloco para apoiar o governo brasileiro e analisar eventual punição em caso de impeachment de Dilma.

De acordo com Meyer, a chamada cláusula democrática, usada para suspender o Paraguai em 2012, só pode ser aplicada se houver violação à democracia, e isso não ocorreu no Brasil. “No Brasil, que eu saiba, não houve nada que justificasse ou se pudesse atribuir a uma ruptura democrática”, afirmou. O integrante da cúpula do Itamaraty acrescentou que, no caso paraguaio, a suspensão foi aplicada após impeachment relâmpago sofrido por Fernando Lugo.

Venezuela. Macri abandonou o tom cauteloso adotado durante a entrevista sobre a política dos vizinhos quando falou sobre Venezuela. “A situação esta muito pior do que estava há alguns meses, quando já me preocupava. Faltam medicamentos e produtos básicos. Estaremos aqui para defender os direitos humanos, os direitos dos venezuelanos”, disse Macri. Sua primeira ação em política externa foi pedir a punição da Venezuela no Mercosul para pressionar pela libertação de presos políticos.

PUBLICIDADE

Macri recuou em sua ofensiva após Nicolás Maduro reconhecer a vitória da oposição venezuelana nas eleições parlamentares de 6 de dezembro. Em relação ao impeachment de Lugo, seu grupo político, então na oposição a Cristina Kirchner, considerou o processo normal e foi contra a suspensão de Assunção do Mercosul e da Unasul. 

O Paraguai, governado por Horacio Cartes, de uma coalizão de centro-direita como Macri, é hoje o principal aliado argentino na pressão à Venezuela. A diplomacia paraguaia deu sinais reiterados de que não apoiaria uma punição ao Brasil com base no uso de cláusulas democráticas. Como qualquer sanção desse tipo deve ser unânime, a possibilidade da sanção cogita por Dilma ocorrer é remota.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.