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Argentina protesta por violência contra as mulheres

Macri promete para julho um plano para atender às reivindicações, como assistência jurídica gratuita para as vítimas

Por Rodrigo Cavalheiro , Correspondente e Buenos Aires
Atualização:

Pelo segundo ano, mobilizações nas principais cidades argentinas exigiram medidas contra a violência de gênero. Em Buenos Aires, milhares de cartazes, bandeiras e camisetas com o lema “Ni una a menos” ocuparam a praça em frente ao Congresso, levadas por adultos e centenas de crianças.

Manifestantes marcham perto do Congresso Nacional contra a violência de gênero Foto: AP/Victor R. Caivano

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“Trouxe minha filha de 5 anos porque fui agredida pelo meu primeiro marido e vejo casos cada vez piores. Só há saída se a mentalidade de homens e mulheres mudar”, disse a artesã Ingrid Pereiro, de 43 anos. O país registra um feminicídio a cada 30 horas, segundo a ONG La Casa del Encuentro. Em 80% dos casos, o agressor é conhecido da vítima. Também havia na manifestação grupos de defesa de travestis e lésbicas.

O governo de Mauricio Macri, alvo de opositores que se uniram ao ato, promete para julho um plano para atender às reivindicações. Entre elas, estão assistência jurídica gratuita para vítimas, unificação de processos civis e penais, proteção aos filhos de assassinadas, capacitação de policiais, monitoramento eletrônico de quem tem ordem de afastamento e reforma no sistema educacional.

"Grandes atos de agressão começam com pequenas violências, como o controle sobre senhas de internet e de celular, sobre roupas ou sobre amigas. É preciso combater estes atos e, se for o caso, romper o relacionamento", defendeu Fabiana Tuñez, presidente do Conselho Nacional de Mulheres.

Entre as facções de oposição e sindicatos que encorparam o ato, estavam alguns que pediam a libertação da líder social kirchnerista Milagro Sala, detida em Jujuy, na fronteira com a Bolívia. Ela é acusada de desviar e distribuir verbas destinadas à habitação com fins políticos. A partidarização da marcha, entretanto, foi minoritária.

Um dos grupos mais chamativos era o da professora primária Nerina Kullock, que usava uma camiseta bordada com a frase que queria denunciar: “Vai sair vestida assim?”. Ela faz parte de uma associação de artistas que começou há três semanas a costurar, em lenços masculinos branços em linha vermelha, a sentença que mais marcou cada uma.

Nerina lembrou o caso da adolescente brasileira estuprada no Rio, que ganhou repercussão na imprensa local. "Não importa se foram 30, 15 ou 5. Acho que é a história mais horrível da qual ouvi falar. Sou professora primária e temos de estar atentas todo o tempo para evitar preconceitos como 'futebol é só para meninos' ou 'trança é coisa de menina'. Isso é a raíz de tudo", disse. 

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Os lenços brancos do grupo foram unidos e viraram faixas na manifestação. Algumas expressões: "magra você é mais bonita", "mas o que você vestia?", "com este decote você não sai", "elas viajavam sozinhas", "oi bebê", "te falta um macho", "fica quieta que você gosta" e "você é minha".

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